SER AVÔ NA MODERNIDADE –
Acabou-se o tempo em que as famílias se reuniam em torno da mesa para entabular conversas descontraídas durante o almoço ou jantar. A mania salutar dos papos nas salas de estar deixou de existir. Na atualidade, não se encontra espaço nem tempo no agitado cotidiano das pessoas, para a troca de ideias no seio familiar.
Pudera, o progresso inseriu novos procedimentos nos costumes de nossos antepassados com o advento da internet e de aplicativos inteligentes. Em anos não tão distantes, sabíamos o que ocorria no país e no mundo mediante o jornalismo impresso ou através de noticiários na televisão. Agora, toda e qualquer informação é obtida mediante consulta a aparelhos eletrônicos manuais, em tempo real.
A evolução tecnológica da pequena maquininha, antes denominada telefone celular porque funcionava somente como um telefone portátil, ocasionou mudanças bruscas em costumes e padrões comportamentais da sociedade brasileira e de diferentes civilizações deste mundão de meu Deus.
Dados da Anatel indicam que o Brasil terminou março de 2018 com 235,8 milhões de celulares, ou seja, com uma densidade de 112,98 celulares por 100 habitantes. Essa proporção aponta que o número de celulares em uso ultrapassou o de habitantes no país. Isso mesmo, cada brasileiro detém, hoje, 1 celular e fração de outro.
Ainda que sob o efeito deletério em costumes tradicionais, por conta do uso abusivo de telefones inteligentes(smartphone) e de computadores portáteis(tablet), muitas famílias insistem em preservar resquícios dos antigos hábitos. Talvez, para não deixar a modernidade se apossar das boas lembranças do passado.
Ser avô ou avó é uma delícia! Curtir os netos sem as responsabilidades do papel dos pais, deixa a relação mais leve e interessante. Eu insisto em manter um contato físico semanal com meus filhos, netos, genros e nora – nem sempre é possível reunir a todos. Entendo que tais bate-papos consolidam a noção de unidade familiar.
Os netos, porém, fogem à regra. Ao invés de participarem das conversas entabuladas preferem a companhia de aparelhos iMac, iPod, iPhone, iPad e iTunes, que os divertem e acalentam a curiosidade latente em cada um deles.
Acontece de o vício decorrente do manuseio dessas geringonças haver extrapolado todos os limites admissíveis da racionalidade, fugindo do controle dos pais ou de responsáveis pela educação das crianças, por negligência ou descaso – é comum utilizarem os aparelhos para aquietar moleques renitentes ou malcriados.
No meu caso, quando em nossas reuniões, estipulei regras rígidas, claras e simples para a utilização de tais aparelhos: não é permitido o uso de nenhum deles na casa dos avós. Para compensar a proibição lancei mão de jogos manuais, quebra-cabeças, brincadeiras grupais e outros tantos artifícios para desviar a atenção deles das maquininhas, durante o rápido convívio conosco.
Como complemento, aprendi alguns truques de mágica que fazem tanto sucesso entre os netos, que eles já entram no apartamento gritando: Mágica!…Mágica!… Enquanto isso, o avô se diverte vendo-se alvo da atenção dos pirralhos numa interação saudável, mesmo assumindo o papel de um bobo-da-corte animador de plateias.
Certamente, tais momentos permanecerão vivos nas memórias de cada um deles, não deixando que se perca nas dobras do tempo o exemplo de como as coisas aconteciam num Lar Doce Lar… de antigamente.
José Narcelio Marques Sousa – Engenheiro civil e escritor – [email protected]