SER FELIZ É UMA COMPLEXA EQUAÇÃO – Jussara Goyano

SER FELIZ É UMA COMPLEXA EQUAÇÃO –

Pesquisas derrubam ideia de que circunstâncias, dinheiro ou genética, seriam, isoladamente, responsáveis por nossa felicidade. Entenda os fatores que podem aumentar o seu bem-estar

Em tempos de pandemia, crise política e outros quetais apocalípticos, vale nos apegarmos não só na fé, mas em informações e estatísticas que nos ajudem a racionalizar a incerteza e o desconforto. Outros guias para dias melhores, já que as diretrizes de saúde já foram absorvidas e que as seguimos à risca (espero). Têm muito valor, nessa hora, dados concretos que nos façam acreditar que tudo passará e que diferentes elementos podem influenciar a situação, nos fazendo transcender ao momento. Falar de felicidade justamente agora não é panaceia – sob o olhar da ciência, é necessário, urgente e efetivo para nosso bem-estar.

Para derrubar o mito de que algo possa determinar definitiva e isoladamente nossa felicidade, cito Martin Seligman, pai do movimento da Psicologia Positiva, a nos lembrar que os fatores que a compõem são múltiplos e interligados.

Em seu livro “Felicidade Autêntica”, Seligman revelou uma equação, definida a partir de extensas pesquisas, em que F= L +C+V, sendo F a felicidade, C, circunstâncias, L, nossas limitações, como a genética, e V, nossas atitudes. Teríamos, então, três chances de incrementar o resultado final F desse cálculo. Sendo assim, nenhuma circunstância nos define de forma isolada, mesmo que seja incontornável, como o momento em que vivemos. Nossa genética e nossos atos também não seriam, sozinhos, os únicos responsáveis por sermos mais ou menos felizes. A conta pode ser equilibrada entre tudo isso.

Nossas chances de bem-estar aumentam ainda mais se dermos atenção a cinco importantes campos da vida, sobre os quais transitam os fatores C e V do cálculo mencionado. Tais setores foram convencionados segundo estudos internacionais do Instituto Gallup, reverenciado órgão de pesquisa norte-americano em desenvolvimento humano. A saber, seriam estes os setores profissional, de finanças, saúde, social – englobando família e relacionamentos – e comunidade – no sentido de nossas contribuições à sociedade.

Um score elevado de satisfação com cada um deles, mas sobretudo equilibrado entre todas essas áreas, levaria a uma maior percepção de bem-estar, segundo a entidade. Sendo assim, o dinheiro ou a posse de bens, no tocante ao setor “finanças” da vida, não seriam, também, isoladamente, capazes de produzir felicidade. Tom Rath e Jim Harter, líderes proeminentes desse levantamento, realizado em 150 países, resumiram essa e outras conclusões no livro “O fator bem-estar” (Saraiva, 2011).

Em primeiro lugar, foi preciso verificar, em mais de cinquenta anos de estudos da instituição, um método de pesquisa que funcionasse em diversas culturas, situações e idiomas, levando às conclusões mais contundentes sobre o tema. Estabelecida a metodologia, entrevistas realizadas junto à amostra citada (correspondente a 98% da população mundial) geraram respostas que levaram, estatisticamente, à definição dos cinco fatores estratégicos de bem-estar. Segundo Rath e Harter, trata-se de elementos importantes para as pessoas em todas as situações estudadas e de “setores da vida sobre os quais podemos fazer algo”.

A conclusão de que estariam interligados reforça a ideia de voltarmos o olhar a todos eles, e não nos fixarmos em um único, sobretudo aquele que estiver disfuncional – como a esfera social, por exemplo, que neste momento pode estar prejudicada com o afastamento voluntário. Pois, do contrário, incorremos no risco de focar no que nos traz infelicidade e esquecer ou negligenciar tantos outros campos da vida.

Sendo assim, podemos, agora, invocar o senso comum. De valorizar as coisas boas à nossa volta, em todos os setores essenciais ao nosso bem-estar. E, ainda, como dizem nossas mães e avós, temos de dar graças à nossa força e vitalidade (e conservá-las), e lembrar, no campo das circunstâncias, que, por mais determinantes que nos pareçam em relação ao nosso bem-estar, elas não são eternas: “não há bem que sempre dure, nem mal que nunca termine”.

 

 

Jussara Goyanojornalista e Coach certificada pelo Instituto de Psicologia Positiva e Comportamento SP

 

As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores
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