SER PAI –
O alicerce é fundamental à firmeza e à longevidade de qualquer construção. Como homens, somos o fruto de todas as influências recebidas, que nos servem de base de apoio.
Nesse diapasão, o ser humano precisa ter uma estrutura, do mesmo modo que as edificações.
Amar é oferecer ao ser amado caminhos, exemplos de comportamentos e de solidez moral.
Viver é a experiência de construir e de peneirar, como o garimpeiro, separando o ouro da areia e barro inúteis.
Ser pai, portanto, é mostrar os caminhos do trigo e extirpar da estrada o joio, que só faz mal. É emprestar um sentido da vida a seu filho.
Ser pai, em suma, é encaminhar para o aprendizado complexo da renúncia, da resignação, da perda, da luta difícil, da multiplicação dos pães e dos peixes com o bom senso da economia.
Mesmo porque não há glória sem enfrentamento de dificuldades.
O pai verdadeiro não dá tudo o que o filho quer, e que açodadamente acredita precisar.
As dificuldades enfrentadas com parcimônia e disciplina engrandecem e fortalecem o espírito, constroem o caráter e, ao final, forjam na luta o jovem equilibrado e vitorioso; e o homem realizado de têmpera de aço.
Deseducar é conceder direitos fáceis (pensão alimentícia alta, mesada exorbitante, dinheiro abundante, conforto exagerado); é dar ao filho somente roupas da moda; é afastá-lo da “gentinha” (gente humilde, mas decente); é criar o filho distante da fé em um Deus (pouco importa a religião), da crença na vitória do justo, da verdade e da solidariedade.
Educar, ao contrário, é deixar que o filho floresça, que tenha idéias pessoais, esquadro, régua e compasso próprios, porém que entenda haver regras na vida, limites e direitos alheios e que devemos respeitar os espaços do próximo.
Ser bom pai é dizer mais não do que sim – quando preciso for – mesmo com o coração partido. É punir quando o sentimento interior só quer beijar e abraçar.
Alguns pais modernos compram tudo o que o filho quer, sonha e deseja. Mas, diante de tanta facilidade, a criança desde cedo passa a ser volúvel, sem apego a nada nem a alguém, a partir dos inúmeros brinquedos recebidos, pelos quais não nutre nenhum amor específico; diferente das crianças do passado, que tinham estima especial pelo caminhãozinho de madeira dado pelo tio ou pela bonequinha de pano presenteada pela mãe, dentre outras simplicidades cativantes. Daí porque as relações materialistas resultam em sentimentos frios, calculistas e de infelicidades generalizadas, voltadas apenas para o pai mantenedor, que só tem deveres pecuniários e jamais cumpre o seu papel de mentor e orientador.
Certos pais são apenas os “coroas chatos” que pagam as contas e patrocinam “direitos”, manhas e maus costumes da criança, que, em verdade, não tem culpa da omissão e da irresponsabilidade deles. Pais que imaginam tudo comprar com o dinheiro desencaminham a pobre criancinha, que terminará sendo, no futuro, um fracassado, sem vontade e ideal de vida, quando não viciado em drogas ou sem horizontes.
Antes que os filhos sejam hóspedes de presídios e manicômios ou se transformem em verdadeiros zumbis nos labirintos do mundo, devem os pais se conscientizar da sua sublime tarefa de construir seres humanos, da missão etérea de artesão de cidadãos do mundo.
Cuidar qualitativamente dos entes queridos é uma questão de consciência e de ética pessoal, que se manifesta no amor, e jamais por imposição legal ou manipulação quantitativa e coisificadora, como se o sentimento fosse questão matemática. Eis porque nos países mais ricos do mundo os jovens das classes A e B são os que mais cometem suicídio; exatamente porque os pais dão tudo de material, porém se esquecem de saciar a sede e fome de amor e cuidados que todo ser humano – principalmente jovem – clama e necessita.
A Palavra Sagrada (I Timóteo 5:3-4,8) afirma que, se alguém (pai, filho, neto, avô, irmão) não tem cuidado com os seus familiares, tem negado os princípios da fé cristã e é pior que o ateu.
Ser pai é estar com o filho na hora da dor, contendo-lhe as lágrimas doridas, dando-lhe força e ânimo, mesmo que esteja intimamente aos pedaços. É compartilhar das suas alegrias, mesmo se esvaindo de dores físicas e desencantos pessoais.
Um bom pai nasce do sentimento, da sensibilidade e do dom divino; jamais pela força da opressão, do decreto governamental, da lei ou da decisão jurisdicional. É algo tão espontâneo e natural quanto à água cristalina que jorra da fonte, ao cantar dos pássaros ou às cores do arco-íris.
O pai zeloso nem sempre consegue vitórias e recompensas na vã filosofia patrimonialista do ter, mas encontra paz na sagrada catedral do dever cumprido e do ser, que são transcendentais e infinitos.
Por isso, o Deus que eu creio e que cerca de 3 bilhões de seres humanos crêem, admoesta no Novo e no Velho Testamento o estrito respeito aos pais como fundamental ao triunfo, à paz, à saúde e à longa vida de quem assim procede. Aliás, no livro de Eclesiástico 3.2, é textualizado: “Ouvi, meus filhos, os conselhos de vosso pai, segui-os de modo que sejais salvos”.
O pai verdadeiro não se preocupa apenas em agradar o filho a qualquer preço, na busca de aplauso fácil e precoce, mas, mesmo contrariando e até contrariado, deve ter a certeza do resultado e agradecimento na época e tempo certos.
Em geral, o pai já tem uma longa jornada percorrida que lhe rendeu aprendizado sobre os perigos da vida e da experiência de viver e conviver, estando capacitado a ajudar seus filhos a caminhar, minorando-lhes os espinhos na estrada futura.
A educação e os bons exemplos do pai para o filho reverterão em favor do próprio pai e trarão recompensas divinas ao filho, asseguradas pela Bíblia Sagrada na palavra autorizada do Apóstolo Paulo, que é o primeiro mandamento com promessa, in verbis: “Honra teu pai e a tua mãe para que te vá bem e sejas de longa vida sobre a Terra” (Efésios 6.2-3).
José Adalberto Targino Araújo – é Procurador do Estado e membro da Academia Brasileira de Ciências, Morais e Políticas
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