SERÁ QUE O SANTO AJUDA? –

Quando a ciência não consegue definir bem como conduzir determinados processos que comprometem o indivíduo e o desespero bate à sua porta, a única chance que resta é recorrer a algo superior que possa socorrer.

Diante do desespero e medo das consequências da pandemia, uma senhora perguntou ao médico.

– Dr. O que posso eu fazer, estou com muito medo dessa doença que nem tratamento tem?

O médico tentando acalmar a paciente, responde;

– Vamos nos prevenir, rezar e ter fé.

– Fé tenho muita. Não sei mais a que santo recorrer. O senhor conhece algum mais específico dessa doença? Minha vizinha disse que vai procurar um Pai de santo, ela é Umbandista .

– Tudo é válido. Devemos respeitar as nossas crenças individuais e procurar os conhecimentos científicos já testados para iniciar os tratamentos.

A paciente saiu mais aliviada e o Dr. ficou a pensar.

Na igreja católica tem centenas de santos e nas religiões de origem africana também muitos elementos importantes a serem referenciados.

A igreja católica tem mais de 20 mil santos e beatos, somente nos últimos seis Pontificados, centenas de santos foram introduzidos na igreja católica.

João XXIII: 10 santos, Paulo VI: 43 santos, João Paulo I: 0, o coitado teve um dos mais curtos pontificados da história, 33 dias, não deu tempo para canonizar nenhum santo, João Paulo II: 482 santos, Bento XVI: 44 santos e Francisco até a canonização da Irmã Dulce, 898 santos. Esse deverá passar de mil santos, se continuar nesse ritmo.

Se incluirmos os santos das igrejas Ortodoxas Bizantinas, Ortodoxas Orientais e Anglicanas, o número de santos será ainda maior.

As igrejas evangélicas não advogam a referência aos santos, seguem a Bíblia, da mesma forma que os Judeus seguem as orientações do Livro Divino, a Torá. Os Islâmicos (Mulçumanos), acreditam em Alá como único e verdadeiro Deus e seguem as orientações do profeta Muhamad (Maome) e o seu livro sagrado o Alcorão.

Os espiritas têm sua base de origem no Livro dos Espíritos de Allan Kardec, basiando-se na crença de Deus como criador e a sobrevivência do espírito após a morte com sua capacidade de interagir com os vivos.

O Budismo criado por Sidhartha Gautama, o Buda, afirma que o homem é o responsável por sua própria salvação, tendo o Nirvana como paraíso. Todas essas últimas religiões não têm os santos como intermediários de chegada até um Deus.

Nas religiões Afro-brasileiras existe um grande número de elementos reverenciados por elas.

Vale a pena relatar as diferenças entre as duas mais cultuadas. A Candoblé e a Umbanda.

A Candoblé tem origem totalmente africana, cujos rituais envolve as oferendas (comidas), os ritmos musicais através dos batuques e das danças.  Os rituais nos terreiros são verdadeiras festas na busca dos espíritos e orixás, normalmente não existe a incorporação de mediunidades. O chefe ou líder da comunidade é o Babalorixá quando masculino ou Ialorixá, quando feminino e não são utilizadas bebidas alcoólicas nem tabacos.

A Umbanda tem origem afro-brasileira, envolve elementos de cultos africanos, religião católica, culturas indígenas e espiritismo Kardecista. Desses herdou a prática da caridade.

Os cultos são também nos terreiros ou templos com danças, batuques e cânticos em português. A incorporação de entidades, são induzidas pelos médiuns em busca da cura dos males da saúde e do espírito. O álcool e o tabaco (cachimbo, charuto) fazem parte dos rituais, conduzidos pelo Pai de Santo ou Mãe de Santo. A Umbanda consolidou-se no Brasil como religião em 1939 com a fundação da União Espírita de Umbanda, organizando-se em conclaves e encontros mais abrangentes. Tem os Orixas como referencias de energia, entre eles: Oxalá, Ogum, Oxossi, Xangô, Iemanjá, Oxum, Iansã, Nana, Buruquê e Obaluaê. Tem também as entidades ou espíritos guia: Exus, Pomba gira, Preto velho, Preta velha, Caboclos (índios), Erês (crianças), Baianos, Marinheiros, Malandros e Boiadeiros.

Na época da escravidão, esses cultos eram vistos como bruxarias pelas classes dominadoras, sendo agressivamente reprimidas, havendo a necessidade de cultuar seus hábitos religiosos secretamente. Criou-se uma estratégia para disfarçar dos patrões e até das autoridades policiais, identificando seus elementos de veneração com os santos católicos. Iansã era Santa Barbara, Iemanjá era Nossa Senhora da Conceição, Obá era Santa Joana D’Arc, Xangô era São Jerônimo e Ogum era São Jorge. Esses fatos ficaram conhecidos como sincretismo religioso.

Isso me fez lembrar um fato acontecido: Estava eu me escovando para entrar na sala de cirurgia, quando ouvi uma conversa que vinha da sala, meio acirrada entre os assistentes e médicos residentes que participariam da cirurgia. Rapidamente acelerei o processo de assepsia e entrei na sala pensando que algo inesperado estaria acontecendo com a paciente. Claro que a mesma estava anestesiada e não compartilhava da conversa.

– O que está havendo? Indaguei apreensivo.

– Nada professor. Apenas esse colega estava alegando o fato de a paciente estar com essa medalha em sua roupa e que nada daquilo adiantaria diante da sua doença. Estávamos com posições divergentes no grupo. Para encerrar o assunto e iniciar o procedimento, falei para o jovem médico que não valorizava a fé da paciente, expressada naquela medalhinha em suas vestes.

– Saiba que poderá chegar o momento que nada mais terá a oferecer para controlar a evolução da doença de uma sua paciente, nada que seus conhecimentos a ajudem a minimizar a progressão e a angústia dela e será apenas a força da fé nessa medalhinha que a confortará. Vamos encerrar o assunto e iniciar o procedimento. O silencio tomou conta de todos até o final da cirurgia, que por sinal transcorreu-se muito bem.

É isso meus amigos, diante dessa pandemia e indefinição de condutas e tratamentos eficazes, o jeito é socorrermos de tudo que nos fortaleça. Os santos são umas das opções para quem acredita e a força da fé é importante para superar os desafios da vida.

 

 

 

Maciel Matias – Médico mastologista, [email protected]

 

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