Vicente Serejo

É muito mais grave do que pareceu naqueles oito dias mais agudos de rebelião a crise instalada no sistema prisional do Estado. E essa gravidade só veio aflorar na sua inteireza no último final de semana quando a revista Veja e a matéria do Fantástico desnudaram o que parecia ainda escondido nos escombros da destruição dos presídios. Uma pronta reação do governo venceu o primeiro round, evitando a fuga e o confronto, e é elogiável, mas ainda pulsa o estado de convulsão.

Estava certo o governador Robinson Faria quando, dias antes, na reunião com os comandos policiais na sede do Centro de Informação e Segurança foi incisivo ao conclamar a área policial ao uso mais eficiente do setor de inteligência. Não cabe mais, depois de confirmadas as remessas das armas pesadas ao Estado, como informou a Veja, imaginar que o episódio se resume a uma tomada de posição dos prisioneiros motivados por desacordo com os métodos de carcereiros e seguranças.

Será prosaico, para não dizer irresponsável, se a essa altura da crise a segurança continuar a  insistir numa rebelião de natureza interna. Há visíveis e graves articulações com pelo menos duas organizações criminosas, o Primeiro Comando da Capital e o Sindicato do Crime. O incêndio dos ônibus revela um planejamento frio e ousado: foram esvaziados, sem qualquer admoestação aos passageiros, motoristas e cobradores, e só depois queimados, numa evidente demonstração de força.

Meses antes, esta coluna registrou que Natal amanheceu com a sigla do PCC  pichada nos muros e ao invés do serviço de inteligência buscar as razões, optou por assegurar aos meios de comunicação que a organização não existia aqui e nem atuava nos presídios do Estado, como se apagar a sigla fosse a solução. Depois, foi a vez do juiz Henrique Baltazar, da Vara das Execuções Penais, avisar do risco de uma explosão, sem que a sua palavra merecesse crédito e gerasse reação.

Como se não bastasse – e foi preciso que a Veja levantasse o fato numa matéria de duas páginas – ano passado houve um relatório sobre a ‘Operação Alcatraz’, realizada pelo Ministério Público e a Polícia Militar, dando conta de que os chefões agiam dentro das prisões. No texto, não há dúvida: existe no Estado a facção do PCC, vinculada a São Paulo, e do Sindicato do Crime. O texto informa remessa de ‘aporte financeiro’ para aquisição de armas e munições de grosso calibre.

A rigor, e a julgar pelas informações não contestadas até agora, não só a sociedade estava desinformada dos riscos que corria. O novo governo, pela forma como foi surpreendido, também estava. E não há de ser esta a convicção que pode isentar os setores policiais. O governo reagiu, não negociou com bandidos e foi capaz de decretar a calamidade até para justificar uma intervenção determinante na contenção dos amotinados. Deu certo. Mas nem por isso o risco convulsivo passou.

Vicente Serejo – Jornalista e Escritor

Ponto de Vista

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