O colega acadêmico padre João Medeiros Filho é do sertão, lá de Jucurutu, onde, Deus o sustentou na fé desde que nasceu. Sempre, manteve reflexões espirituais diante dos fatores imanentes e iminentes da vida.
É um simples, não gosta de reuniões onde desfilam egos inflados. Suas crenças básicas estão fincadas na desafetação da vida como perpétuo e inalienável direito de existir, misturado ao povo miúdo, imagem e semelhança do Cristo, seu irmão. Nunca exercitou artificial adesão ao modismo litúrgico, plástico, aeróbico, difuso e mítico. No altar do Senhor ele é o donatário da capitania de Jesus ou capataz dos mistérios circundantes da fé. A sua homilia contêm a alma e o sumo das descobertas, interpretando em Mateus, persegue pontualmente os significados, a Lucas, Marcos, João e Paulo, tudo que o Espírito Santo falou. O padre apenas humana palavra necessária que todos queremos ouvir. No altar, nos repassa a unção e a certeza de que Deus existe.
A sua vasta experiência em vida acadêmica, direção e assessoramento superior em inúmeras instituições de ensino público e privado, oferecem-nos uma exata dimensão de sua experiência administrativa e cultural em cargos que ocupou.
O mais importante é que, com ele aprendi que soube sempre viver a alegria de sua pobreza material, território dos seus vãos e desvãos. Aqui e acolá fantasmas líricos apareceram para testemunhar o seu caminho de retidão. Triunfou sobre tudo, porque a sua angústia factual como sacerdote reside na tristeza de que o ser humano coisificou-se. Muita gente, perdeu a densidade, a identidade, a musculatura dos gestos e dos passos que fazem realmente a história da humanidade comum.
Nessa longa trajetória, sempre combateu o bom combate e nunca perdeu a lâmina da alma. Na atividade bibliográfica o seu labor foi extenso e genuíno nas origens e nas vertentes. Dos vinte livros publicados, três deles em idioma francês, versaram sobre temas sociais, religiosos, memorialísticos, históricos, publicados por editoras de prestígio nacional e internacional.
No céu estrelado de nossa amizade pessoal e litúrgica, ela passeia pela nostalgia que provém das nossas heranças telúricas de um tempo que a memória ainda não desfez. Juntos abominamos a marginalização dos pobres deste mundo que são hoje os mártires de ontem. Unidos, ainda procuramos nas conversas a terra habitada pelo silêncio e pela distância das coisas, porque o nosso grito é cárcere privado e já não se faz pouco ouvido, nesse mundo de contradições de todo o gênero. Vejo-o e sinto-o ainda, até hoje, moderado e modesto como sempre o conheci. Tão sem vaidades que gosta de ser anônimo, fulano de um mundo diferente, distante, coletivo. Em Emaús, onde Jesus mandou Nivaldo Monte deixá-lo, ele sonha com as madrugadas de silêncio, como se estivesse numa pracinha do interior, povoada de alegrias simples de viver.