SÓ SEI QUE NADA SEI –
O que é o ser humano na Terra? Gênese do quê? Real presunção do ignoto?
Quando foi que os humanoides começaram a pensar? Metamorfose do nada? Princípio da Criação?
Intuição, instinto de preservação, compreensão societária, defesa grupal, desenvolvimento da cerebração, transmutação de espécies, adaptação ao meio ambiente, são mil conjecturas que permeiam teorias, cada qual a trafegar no universo telúrico, durante milênios, acerca dos quais restam apenas as ossadas dos dinossauros, elementos táteis, a marcar uma época do jurássico.
Dentre os milhares de incontáveis seres humanos, pinço a figura de uma inteligência, da Grécia Antiga, a iluminar Platão, Aristóteles, Aristófanes e uma plêiade de pensadores que povoaram a Antiguidade, que foi Sócrates (470 a.C.-390 a.C.), considerado por Pítia – sacerdotisa do Oráculo de Delfos -, como o mais sábio de todos os homens.
Afirmava, sempre, – só sei que nada sei -, ideário que o transformou num símbolo filosofal, a motivar jovens de sua época, verdadeiro ícone do pensamento reflexivo.
A arte de perguntar!
A sabedoria e a virtude são inseparáveis, a conduzir ao entendimento da imortalidade da alma. Assim, antes de morrer, ensinou que no outro mundo poderia fazer quaisquer perguntas sem receio da morte, uma vez que a alma era imortal.
Por não acreditar nos deuses helenos, por ser acusado de corromper a juventude com suas ideias, por orientar o povo a pensar e questionar regramentos, foi condenado à morte, a ingerir cicuta, caso não se retratasse de seus ensinamentos.
O ateniense Conselho dos Quinhentos permitia a retratação, mas Sócrates não se desdisse!
Era seu entendimento que somente descobrimos a verdade pelo uso da razão, que se consolidou entre os homens como pensamento socrático. Neste exercício, a ironia e a maiêutica são fundamentais, porquanto à primeira cabe a interrogação com múltiplas indagações; já, na segunda propositura, o parturejar do conhecimento busca a verdade.
A cicuta (conium maculatum), a beladona (atropa belladonna L), o acônito (aconitum napellus), são venenos (akoniton – planta venenosa) poderosos, extraídos de plantas, há milênios. O arsênico, o mercúrio, o polônio têm origem mineral. Atualmente, o remédio CAPTROPIL, utilizado para a tensão arterial, é extraído do veneno da nossa jararaca (bothrops jararaca), chamada pelos guaranis de yara´raka, portanto procedente do reino animal.
Afirma-se que a diferença entre o veneno e o remédio está na dose!
Sócrates, antes de beber a tisana de cicuta, em meio aos jovens liderados por Críton, que foram tentar dissuadi-lo e alegaram bastar uma retratação, reafirmou que jamais abandonaria a pregação da Ética, da visão da imortalidade da alma (anima) e a busca da autonomia moral do ser humano.
Antes da execução, disse:
“Críton, somos devedores de um galo a Asclépio; pois bem, pagai a minha dívida.
Pensai nisso!”
José Carlos Gentilli – Escritor, membro da Academia de Ciências de Lisboa e Presidente Perpétuo da Academia de Letras de Brasília