SOBRE CRIANÇAS –

Confesso que não consigo ter muitas recordações de minha infância. As fotos eram raras e conversando com pais e irmãos mais velhos eu escuto, mas não lembro claramente o que fazia. Uma lembrança aqui, uma foto ali e alguma coisa vem a tona.

Mas nem tudo está perdido quando se tem crianças. Observando suas falas, movimentos, encantamentos e quereres, vamos sim revolvendo, vendo e percebendo como éramos também.

Estar na presença de uma criança abre o portal de voltar a ser uma. Com elas podemos ter lampejos de sinceridade total, desejo ardente por presentes, vontade suprema por passeios, gana máxima por bagana, ânsia por cinema com pipoca e energia crescente e atemporal por brincadeiras.

Estar com uma criança e se sentir uma, mais uma vez, passa por desprezar o relógio, ignorar olhares alheios, barreiras físicas e leis da relatividade.

Criança é um perigo para Einstein, Freud, Marx ou Buda, está mais para Senna, Didi Mocó, Armstrong/Aldrin e Collin ou Saci, pois a mil por hora, sorrindo, voando ou pinotando num pé só, pululam por nossas vidas, desmoralizando nossas seriedades, detonando nossos horários e vivificando nossos viveres, com seus saberes, seus quereres e seus amáveis e maravilhosos seres.

Para minhas crianças, um já grandinho, Gabriel Kalki, a outra bem no meio do furacão Mel, toda minha atenção, meu amor, minha dedicação e das mães, parceiras nessa missão. A de conduzi-los de onde estão para onde estamos, cuidando para registrar com muitas fotos e vídeos seus babados. Para que, alcançando os cinquenta, possam com seus filhos e meus netos, numa sessão com pipoca moderna, ver, rever, sorrir e curtir, nossas viagens, passeios, ações sociais, abraços, beijos, amassos, em milhões de fotos, todas cheias de carinhos, lotadas de amores.

 

Flávio Rezende – Jornalista e ativista social

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