SOBRE EPÍSTOLAS- 

O gênero epistolar sempre marcou meu espírito no vai e vem das cartas.

Ainda guardo duas cartas, as primeiras, relativas ao namoro com Marilene, que registram nossos encantamentos, à época.

Certo dia, tirei-as do cofre e as exibi aos filhos e aos onze netos!

Cada um reagiu de uma maneira!

Risos, surpresas, comentários românticos, reflexões de toda ordem.

Algo inusitado para os tempos atuais, onde o enlevo desapareceu das relações amorosas.

Os desejos e anseios tinham outra intensidade.

Além, as cartas eram exercícios de aprendizado do idioma, verdadeiros espelhos de nosso conhecimento.

Minha velha mãe, rígida professora primária, durante seus quase cem anos de vida, sempre manteve diária correspondência com todos os filhos, netos e bisnetos.

Algo mágico!

Um deles guarda até hoje as cartas de sua centenária avó!

Algo vivificante e reflexivo.

As cartas guardam pedaços de vida!

As epístolas são marcas espirituais.

Após o dia 30 de maio, quando completo a condição de octogenário, revigorarei o costume antigo de enviar cartas às pessoas, numa demonstração inequívoca de apreço, de amor, de respeito, de consideração, de encantamento e, sobretudo de afirmação de princípios e maneiras intrínsecas de nosso viver em sociedade.

As minhas cartas sempre foram e serão inefáveis, a demonstrar a alegria de viver.

Até penso em escrever uma para ser lida durante o meu rito de passagem!

A sabedoria ilumina, sempre!

 

 

José Carlos Gentilli – Escritor, membro da Academia de Ciências de Lisboa e Presidente Perpétuo da Academia de Letras de Brasília

 

As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores

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