SOBRE EXPORTAÇÕES –
Em todo começo de governo se diz em alto e bom som: estamos quebrados, nada se pode fazer. Nesse momento os neurônios começam a funcionar e vêm à tona ideias adormecidas que, se aplicadas, fariam a diferença no atual momento de estiagem financeira.
A partir daí, começaria fazendo uma análise das demandas intrínsecas aos segmentos empresariais que fazem parte do complexo econômico que permeia o nosso torrão partindo do segmento em que estou inserido há mais de 40 anos, a fruticultura irrigada. Segmento esse que dá provas de que, em se plantando, tudo dá.
Sofremos as agruras de estarmos numa região onde a água, bem essencial, é naturalmente escassa, mas também em que o sol escaldante, antigamente inimigo dos que insistiam em produzir ou criar, se transforma num grande aliado. Tudo graças à insistência e à criatividade dos que aqui vivem e amam sua terra, tudo pode ser transformado: de região seca e árida passou a ser um oásis.
Das demandas reprimidas desse setor eu elencaria uma que pode ser resolvida sem grandes investimentos e que traria benefícios financeiros imensuráveis para o setor que hora destaco. Quando falamos de benefícios para um setor empresarial, podem pensar imediatamente em empregos, empresário reaplica todos os ganhos auferidos para produzir mais com custo menor.
Pois bem, para se ter um tamanho real do que estamos falando, destacamos o seguinte: Alguém tem noção do quanto se paga pelo frete de um container de melão saindo de Mossoró para o porto de Natal? Eu digo: representa a metade do valor que se paga pelo frete marítimo entre o porto de Natal e o porto de Rotterdam, na Holanda.
Acreditem se quiserem, mas é a realidade vivida por todos que se atrevem a exportar frutas para o exterior. Esse preço exorbitante se dá em virtude de se transportar essas frutas pelo modal rodoviário até o porto da capital, onde são embarcadas, para, em seguida, fazer a longa travessia do Atlântico.
Com certeza se pensa de imediato que a solução passaria por duplicação de estradas ou através do modal ferroviário. Muito bem pensado quem assim imagina. Realmente ambas as soluções seriam muito bem vindas. Porém, não esqueçam que, não só o estado, mas também o país, encontra-se em crise, por sinal não somente financeira, desta feita, inconcebível se pensar em gastos nesse momento.
A solução está bem perto da produção, a 40 km de Mossoró: estou falando do porto em terra de Areia Branca, que em virtude da construção do Porto Ilha, se encontra inoperante há mais de 50 anos.
Pois bem, cabotagem interna é o nome. Os containers de frutas, ao invés de seguirem para o porto da capital pela via terrestre, seguiriam para esse porto caseiro e, daí em diante, tomariam o rumo para desembocar no porto de Natal pelo mar, em seguida diretamente para os grandes navios conteineiros que ali fazem o pit stop, para depois seguirem oceano a dentro com as nossas frutas, com destino à Europa e outras regiões.
Têm vocês ideia de quanto isso representaria em economia para os bolsos dos corajosos empresários da fruticultura da região Oeste? Uma bagatela de 40% do preço do frete até Natal. Estamos falando num volume de 700 containers/semanal ou 25.000 ao ano/safra.
E quanto seria o investimento do Estado para se conseguir essa proeza: aprofundar o calado do porto de Areia Branca até à boca, saída para o mar (eu chutaria uns 10 km de distância) de 5mt de profundidade atualmente, se encontra assoreado, aumentando-se para 7mt, seria suficiente para viabilizar a entrada e saída de navios que levariam praticamente todas as frutas que se exporta na semana, de uma só vez.
Prometi a mim mesmo não falar em valores financeiros e vou cumprir, por isso, não refutaria em pensar que esse gasto poderia ser bancado pelo próprio setor ou mesmo pelo armador que prontamente aceitasse encarar esse modal.
Aos que por beneplácito e amizade me leem, façam os cálculos e comparem quanto se gastou e se gasta nos portos do Brasil, ou mesmo nos que aqui se situam, e dessa forma chega-se à triste e óbvia conclusão, o que falta é interesse político em resolver de maneira fácil as demandas que são de extrema importância para os que necessitam dos resultados.
Para concluir, e depois de expor esse projeto para outros segmentos da economia, a ele se agregaram setores que sofrem da mesma dificuldade no que se refere à exportação de sua produção: o sal, a cal, adubos, entre muitos mais, que fariam coro na mesma linha, isto é, também poderiam usar desse mesmo modal.
Francisco de Paula Segundo – Empresário