SOBRE O MEU ÚLTIMO LIVRO –
 
É natural fugirmos da realidade e dourarmos os momentos que a vida nos impõe, como se essa fuga bastasse para afastar as imagens que se quer macular. Viver superficialmente é a prática mais comum ao ser humano.
 
O “ver” bonito é mais pragmático ao primeiro momento, mas tudo o que nos acontece tem causas e consequências e é natural que seja assim. É a oportunidade de aprendizado que a própria vida oferece incessantemente.
 
É missão do ser humano agregar valor à vida e vivê-la com plenitude os bons e os maus momentos, assim você se aprimora continuamente. O mundo se desenvolve, a riqueza se multiplica, as informações oferecem oportunidades de novos conhecimentos à disposição, a tecnologia encurta distâncias, mas o homem, inexplicavelmente, permanece preso ao primitivismo de si mesmo.
 
Primitivismo?
 
Sim. O primitivismo do homem e seus paradoxos. Hoje existem explicações para tudo. Certas ou erradas, condicionadas ou não, estão presentes e permanecem à disposição do homem, mas as primitivas ações e atitudes o acompanham e se conflitam: o medo e a coragem, a solidão, a fraqueza, a ansiedade, a indecisão entre tantos sentimentos alojados em seu âmago.
 
Viver é uma catarse. É um processo para o aprimoramento do ser humano. É um voo nos limites do humanismo. E voar não é próprio do homem, mas dos sentimentos. Ao se negar a aprender e a enfrentar o complexo mundo dos sentimentos e emoções, queda-se ao primitivismo. A vida se inicia e se transforma em um complexo círculo onde o homem é a peça a ser transformada, a ser centrado e o centro está em toda parte nos tortuosos caminhos para a eternidade.
 
O meu último livro, Último Embarque, busca oferecer um olhar para essa complexidade que é a existência humana e as reflexões que dela se extrai. Na mesma linha literária dos livros anteriores: Quarto de Hotel e Recomeço, onde este autor utiliza-se dos fatos simples do cotidiano para formular essas reflexões e abstrações para que o leitor encontre o sentido e a conotação do que seja a vida e que aperfeiçoe suas próprias concepções na diversidade de momentos vividos intensamente.
 
Assim, o homem segue em sua dualidade e ainda confunde os limites do bem e do mal, da moral e da ética, de vida e viver. Nesse sentido, Winston Churchill, estadista inglês, foi pedagógico ao nos ensinar “vivemos com o que recebemos, mas marcamos a vida com o que damos”.
 
Lamentavelmente, o homem ainda não aprendeu que o sentido da vida não é a duração, mas a doação. Essa é a realidade do ser humano, que se busca social, mas se aprimora com a solidão.
 

Adauto José de Carvalho Filho – AFRFB aposentado, Pedagogo, Contador, Bacharel em Direito, Consultor de Empresas, Escritor e Poeta.

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