Ana Luiza Rabelo
Todos sabemos o quão passageira é a felicidade e por isso mesmo aproveitamos ao máximo os momentos de bem-estar, as conversas gostosas, a alegria de estar à vontade consigo mesmo.
O que ninguém para para pensar é que sofrer vicia. Uma das drogas mais pesadas e de difícil recuperação que já encontrei ao longo da vida.
Pior que crack, bebida e cocaína, sofrer traz consequências irreparáveis para o que sofre e para os que estão em volta.
Externar o sofrimento, chorar, reclamar… tudo isso mexe com cada pessoa que está ao nosso redor e nos sentimos incapazes ou impossibilitados de excluir essas pessoas que convivemos e amamos do nosso “momento negro”.
Para o viciado, já habituado às sensações e atenções que o sofrimento traz, todo aquele vale de dor e lagrimas é normal e contagiar os outros faz parte, porque “a miséria sempre quer companhia”.
Imagine uma família inteira tomada pela depressão, pelo pessimismo, pela desesperança!
O pai não tem trabalho, o dinheiro está curto e ele sente o peso das dívidas crescendo em suas costas como um tumor, ou uma corcunda gigante. A mãe sofre, pois, além de trabalhar para ajudar a manter a casa, ela também tem sua cota de dívidas, de obrigações dentro e fora do lar e que estão sendo negligenciadas pela dor de seu esposo, dor esta que também encontrou lugar no coração dessa mãe e ela também pensa e repensa sobre as suas escolhas na vida, mas está presa nessa grade de dor e não vê saída. Os filhos brigam por nada e de nada ajudam, pois a obrigação “não é deles” e, além disso, eles querem coisas que seus amigos têm e que seus pais não podem dar!
Qual seria o clima, o amor, os temas de conversas, os laços que unem essas pessoas ao redor de uma mesa durante a refeição? Estariam mudos? Reclamariam baixo ou em alto e bom som sobre suas “indignidades”? Teriam condição de se condoer por cada problema do outro ou apenas olhariam o próprio umbigo e ponto final?
Como sair dessa densa teia de dor? Por que sair? Sofrer e reclamar é tão mais fácil e cômodo do que pensar e lutar.
Porém, se tem uma coisa que a vida nos ensina é que cada existência é única, cada provação é um teste de resistência e só cabe a cada um fazer a sua parte. Sair um milicentímetro de sua zona de conforto e ajudar o próximo e se condoer e tentar, pelo menos, estar lá pelo outro.
Porque a vida não é difícil só para essa família fictícia, mas cada pessoa no mundo tem sua dor e sua história que não devem ser ignoradas, devem ser ouvidas e, dentro da possibilidade de cada um, devem ser socorridas!
Pode ser que você não saiba como resolver os seus próprios problemas, mas, talvez, você tenha um enorme potencial para ajudar o outro.
E a vida é como um jogo de pingue-pongue, ou uma enorme plantação, a cada bola que você rebate, você recebe uma de volta, cada semente que você planta vai dar frutos.
Por tudo isso, rogo a cada um: tire os olhos do telefone, tire a cabeça do seu umbigo, esqueça a grama alheia e tente plantar em sua própria casa um majestoso jardim, pois não há bem que seja eterno, nem mal que dure para sempre. E você vai querer estar lá apreciando a beleza da vida.
Ana Luiza Rabelo – Escritora, advogada (rabelospencer@ymail.com)
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