SOMOS FÊNIX –

Sim, somos todos Fênix! Neste período louco estamos nos reinventando. Conseguimos ministrar aulas on line, aprendemos a rezar terços pelo Google Meet e até fizemos cafés virtuais pelo Zoom. Com mesa posta e oferecendo gentilmente bolo para os amigos do outro lado da tela! Se isto não significa se reinventar, realmente não sei como podemos nos descrever. Abri gavetas que estavam fechadas dentro de mim e deixei alguns sonhos tomarem vida. Alguns deram certo, outros nem tanto. Estes últimos preferi trancar a gaveta e jogar a chave fora. Sem problemas. Deram espaço para novos sonhos… Em meio a tudo isso observei mais as cores do pôr-do-sol e me senti ainda mais grata com cada dia que se iniciou. Meus presentes, páginas em branco que espero rabiscar com delicadeza.

Somos Fênix!

Quem de nós nestes meses ensandecidos não deixou em algum momento suas dores de lado para acolher a dor do amigo que, de longe, te mandava uma mensagem dizendo “estou com medo”? Quem de nós não se vestiu de super-herói e disse para o filho assustado com as manchetes dos jornais “calma, filho, tudo vai passar!”, mesmo que, lá no fundo, nossa vontade fosse sentar no chão com ele e chorarmos juntos! Fizemos isso.

Somos Fênix!

Como a ave da mitologia grega! Renascemos a cada dia, sem perder nossa essência. Saímos das nossas próprias cinzas mexendo as asas para senti-las. Senti-las com seus movimentos capazes de voar para muito longe ou acolher o próximo sob elas, aquecendo e acarinhando.

Somos Fênix!

Então, nestes dias, começo a trocar inúmeras mensagens com uma amiga. Áudios e textos enviados com urgência onde dividimos dores, medos e angústias, mas também, palavras de esperança e o afeto por sabermos que não estamos sozinhas. Ela gentilmente elogia meu texto falando do Koboboy. Não que tenha acertado o nome do meu leitor moribundo! Disse vários outros nomes e todos, muito estranhos, fizeram-me rir. Ainda não sei lidar com os elogios. Fico desconcertada. Ela insiste que gostou e, em meio à troca de ideias, lembra que o pai dela, sedento por livros como eu, baixou o aplicativo do Kindle no celular e…

Para tudo! Como assim? Aplicativo? Será que tem do Kobo? Possivelmente…

Apresso o fim da conversa sendo honesta e contando a ela que tentarei ressuscitar o Koboboy. Ela me entende e deseja sorte. Boa amiga!

Corro para o guarda-roupa de nosso Felipe e agarro o tablet esquecido faz meses por ele e por nós. Não consigo me ver lendo no celular, mas num tablet… parece uma opção conveniente.

– Você pode carregar para mim, filho? – ele, também está moribundo, sem capa e com a tela trincada, mostrando o quanto foi útil ao nosso filho, mas substituído repentinamente por um celular mais prático.

Com oito por cento de carga não consigo esperar mais. Mudo senhas, adiciono meu e-mail, baixo o app. Esqueci minha senha do Koboboy, droga! Peço outra, recebo mensagem, substituo pela senha nova e… O Koboboy se reinventa, assim como eu. Vejo quase instantaneamente os meus ebooks se exibindo para mim. Abraço gentilmente o tablet e o batizo:

– Fênix Koboboy! Você, como eu, também ressurgiu das cinzas!

Bato nas portas dos quartos dos filhos sorrindo satisfeita:

– Deu certo! Deu certo!

Os muitos livros lidos estavam lá, mostrando suas marcações! Não consegui ajustar a luminosidade, mas não me apegarei aos defeitos. As capas agora estão coloridas! Que delícia. Passo sempre algum tempo admirando a capa e pensando no seu significado para a história, para o escritor. Coisas minhas…

Vejo títulos que nem lembrava ter lido e o coração se encheu de… gratidão. Poderei visitar estes mundos novamente.

Fênix Koboboy se reinventou. Como eu, como cada um de nós. O engraçado é que a solução dele estava na minha frente e não havia percebido! Tão simples… Um aplicativo, um tablet esquecido e sem uso e, de repente, meu mundo de palavras se abre para novos mundos que sonho conhecer.

Deus tem um jeito engraçado de cuidar da gente. Enquanto eu só via o problema, Ele enviou a solução. Para os livros, para os sonhos. Não entregou de bandeja, mas através de pistas ou de peças de quebra-cabeça que devo montar minuciosamente, muitas vezes sem saber qual imagem será formada. Ele tem feito isto a cada dia, incansável e gentil, como só Ele consegue fazer.

O Koboboy continua deitado ao lado dos meus livros, alguns empoeirados por terem sido lidos faz tempo outros por estarem aguardando o momento de serem abertos. Ao lado deles agora tem outra figura: Fênix Koboboy. Ela já está trabalhando incansavelmente, recuperando um tempo de leitura que eu estava sedenta.

Comparo os dois, ambos  mostrando sinais do uso excessivo, algumas diferenças gritantes outras semelhanças tão peculiares  e penso como diferentes caminhos nos levam ao mesmo destino.

 

 

Bárbara Seabra – Cirurgiã-dentista e Professora universitária

 

As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores

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