Jansen Leiros

Um dia, acordei com resquícios de lembranças oníricas, às quais somei  o conteúdo das ansiedades que a mim me envolviam, naquele janeiro, há sessenta anos passados e pensei que pudesse ajustar-me ao consciente objetivo para constituir acervo vivo de um passado prenhe de emoções, repleto de sonhos, alguns conflitantes, outros perturbadores que, de certa forma vinham costurando episódios marcantes na vida de alguns personagens de minha família.

Tentei pairar naquele lençol de recordações, mas não me senti ajustado ao ambiente aonde fui projetado.

Um sonho, especificamente, trouxe-me a figura de meu filho mais velho, já comprometido com seus sessenta anos de idade, senhor de certo lastro patrimonial, que lhe permitia criar a família de três filhos , estando os dois primeiros já graduados em odontologia, e o último, na flor dos seus dezoito anos, navegando em ziguezague, no oceano das tecnologias, anelando definir uma profissão louvável, para garantir o futuro de sua estirpe, razão pela qual soltava sua imaginação para amealhar os conhecimentos de ponta de que carecia naquela circunstância.

Ali estava “EU”, tentando percorrer de retorno as veredas daquele ontem, concentrando meus esforços mnemônicos nas reminiscências  para a reconstrução daquelas lembranças  do passado, tão saudosos que estavam sendo,  naquelas circunstâncias.

Despertei com  essa sensação interior, bastante introspectiva, face à contextura das ideias projetadas na mente.

Eis meu “status” psicológico!.

Rememoremos aqueles fatos.!

Sentado numa cômoda cadeira de balanços, meu corpo entregou-se ao sono reparador e meu “eu” alçou o voo dos anjos, identificando o ambiente de meu quarto de dormir, nos idos de janeiro de 1956.

Era uma modesta dependência de classe média, onde se via a cama do casal, um modesto berço branco de madeira e uma jovem senhora, bem apessoada, longilínea e serena, que amamentava o filhinho recém-nascido, envolto em sua indumentária alvíssima.

Ali estava meu primogênito, Jackson José Fernandes Leiros Ferreira, nascido em 24 de janeiro de 1956.

Os janeiros se foram sucedendo, a criança crescendo, tomando aspecto de rapaz, “bonito e atraente.”

Por circunstâncias que aqui não nos cabe relatar, face a questões de ética, fui instado a deixar minha família e me transferiram para a Delegacia  do Instituto do Açúcar e do Álcool, na cidade do Rio de Janeiro, onde fui lotado e simultaneamente  e com respaldo legal me transferi para a Faculdade Nacional de Direito da Universidade do Brasil, onde me graduei no curso de Direito e Ciências Sociais, daquela Unidade Federal e onde me mat4riculei, também, no Curso de Doutorado, em Direito Internacional, o qual não consegui concluir em decorrência da Revolução de 1964.

Fui e voltei, várias vezes a Natal, a serviço e de férias, quando revia meu filho que crescia e crescia….

Jackson continuou a ser criado pelos avós maternos , pessoas do mais alto conceito social que se desdobraram para suprir minha ausência.

Em 1973, nove anos depois , retornei para minha terra.

Nestas páginas quero fazer uma justa homenagem àquelas pessoas de tão alto nível, Deco e Mariinha que tão bem representaram a figura  paterna, ausente por circunstâncias especiais.

Meu retorno a Natal foi muito gratificante, pois voltei ao convívio de meu filho, mesmo que já estivesse homem feito, maduro e responsável.

Hoje, sinto meus sonhos paternos realizados. Meu filho tornou-se pai e dois de seus  rebentos já estão formados  em odontologia, profissionalmente conceituados.

Como PAI me sinto e estou realizado. Carinhosamente realizado.

Jansen LeirosEscritor, membro do Instituto Histórico e Geográfico do RN

As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores
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