SONHOS –

Neste período de descobertas e enfrentamentos, tentei várias coisas. Tentamos! Aprimorar a organização foi uma delas. Tenho uma mania estranha de anotar tudo. Livros lidos, séries assistidas, filmes também. Para os filmes eu ainda coloco estrelinhas, classificando-os em ruim, bom ou excelente. Desde aqueles que pegava nas locadoras até hoje na Netflix, Amazon Prime Video ou nos cinemas ainda fechados. Não consigo me desapegar deste hábito. Anoto sonhos, planos. São listas e mais listas feitas com canetas coloridas e marcadas com post it combinando.

Escrevi algumas coisas além das listas. Eu me testei. Enviei textos para concursos em Portugal e aqui no Brasil. Em menos de 24 horas escrevi um conto e o enviei para cortar o oceano Atlântico através de um correio que andava lentamente e de formulários do Google que me prometeram serem mais ágeis que meus dedos tentando por em palavras o que meus sentimentos ansiavam expressar. Aguardei aproximadamente quatro meses pela resposta deste concurso. Mesmo sabendo ser quase impossível estar entre os cem melhores textos, lá no fundo, tive uma esperança que brincava acelerando meu coração quando lembrava que o prazo para a exposição da classificação chegava…

– Calma! Não é possível que você seja classificada. É seu primeiro conto. – dizia isto para mim sempre que me lembrava do concurso.

Enfim, saiu a lista. De 5600 (ou 5900 – não me recordo) textos, o meu não ficou entre os cem melhores. Li a lista diversas vezes, procurando meu pseudônimo e sentindo uma certa decepção, apesar de não ter alimentado grandes esperanças. Mas as pequenas esperanças são alimentadas por si só…

Envio mensagem para Flávio:

– Não foi desta vez.

Sei que tentei e isso era o mais importante para este momento.

Ele diz que é só o primeiro e decido acreditar nele, tratando minha tristeza com uma barra de chocolate e tentado demonstrar indiferença diante do resultado. Não consegui enganá-lo…

Na semana seguinte saiu o resultado de outro concurso, desta vez nacional. Meu texto foi aprovado.

– Flavinho, veja o e-mail que te enviei. Meu texto foi classificado. Sairá numa coletânea.

Feliz, ele me enche de palavras de apoio:

– Sabia que seria!

Olho para trás e vejo minhas reações como os pratos da balança da “bodega” de meu avô, cheias de pesinhos de ferro fundido, com os quais ele pesava e vendia grãos na cidadezinha do interior da Paraíba. O prato da decepção pesou mais. O da vitória veio meio que carregado com aquela sensação de “você não fez mais que sua obrigação”.

Estou errada. Preciso reorganizar os pratos, os pesos, os valores, as reações diante de tudo. Diante da cobrança louca que nos fazemos de vencer, vencer, vencer.

E o texto? Foi publicado! Meu primeiro texto saindo na forma física, entre outros autores de nosso país abalado por essa loucura pandêmica mundial. Recebi o livro e o abracei com carinho de mãe ao encontrar seu filho.

Desisti de tentar? De forma alguma! Esperei menos ansiosa o resultado de outro concurso literário. Testei-me mais uma vez. Faz-se necessário…

Já experimentei a vitória e o fracasso. Agora, espero mais do que as respostas deste ou daquele concurso. Espero entender o aprendizado de cada um destes momentos… Estou observando qual peso será maior no meu aprendizado…

E ele chegou! Assim como mais um livro impresso. Consegui! Publicações em duas coletâneas. Olho para eles com carinho e apreço e penso em como estes pequenos feitos encheram meu coração de gratidão.

 Quem disse que sonhos não se realizam?

 

Bárbara Seabra – Cirurgiã-dentista, Professora universitária e Escritora

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