SONHOS –
Quando pequena e ainda filha única, numa cidade com poucas opções de passeio, ir à padaria do bairro já era um motivo de alegria. Assim, na volta da escola, papai, segurando-me pela mão, parava na padaria Amada e já sabíamos o que levar para casa: pão francês, uns gramas de bolachinha mil folhas para mim e um sonho para mamãe. Este sonho vinha em um saco de papel, com nuvem de açúcar e lembro-me da alegria de mamãe ao receber o presente.
Eu não gostava de sonho e ficava sem entender o motivo de mamãe se deliciar com aquela bola cheia de creme. Hoje eu a compreendo e penso como perdi tempo sem comer essa maravilha!
Em um sábado despretensioso, com poucas tarefas a serem cumpridas, saímos para nosso café da manhã após olharmos algumas opções de locais no Instagram. Decidimos por um café com croissants e bolo de cenoura com chocolate. Quem não ama?
Ao chegarmos lá Flavinho pediu também um sonho e isso me levou para quatro décadas atrás, o saco de papel, a bolachinha mil folhas e o sonho alegrando mamãe. Decidi, então, pedir um café com leite, algo que não bebia também desde a infância e achei que a combinação seria perfeita para me remeter a tempos leves, onde passava o tempo pintando casinhas e montanhas e fazendo Caça-palavras.
Boca suja de açúcar, café com leite e espuma sendo mexido levemente e olhos nos olhos conversando sobre amenidades. Manhã de sábado perfeita: boas lembranças e sonhos realizados e a se realizarem.
Ah, os sonhos… Agora eu entendo o motivo deste doce ter sido batizado assim…
Bárbara Seabra – Cirurgiã-dentista e Escritora