SOS IDOSO – 

Os idosos, notadamente os de idade provecta, com saúde debilitada ou com abandono material ou afetivo, precisam, com urgência, de conquistas de direitos legais e de mobilização da sociedade no que diz respeito ao grave descaso como são tratados.

A legislação, conquanto afirme que o idoso tem direito preferencial, proteção integral, em igual condição da criança e do adolescente, na prática, por falta de fiscalização, é inócua. Prioridade não é um carimbo, mas ação. Tem que haver mobilização à mudança de mentalidade.

A dignidade de uma nação se mede pelo respeito ao idoso. Conforme a cultura de um povo, assim será o apoio ou abandono, felicidade ou sofrimento que impingem aos seus idosos.

Urgem a criação e o funcionamento eficiente dos Conselhos Nacional, Estaduais e Municipais do Idoso, de Delegacias do Idoso, de Varas Judiciárias do Idoso, de Lei de Cotas que assegure vagas em cargos (vitalícios, efetivos, eletivos e comissionados) às pessoas com mais de 65 anos, preferencialmente.

Afinal, honrar o idoso é aceitar o próprio futuro e a sua inexorável velhice. Reverenciar o idoso é valorizar a experiência de vida, o conhecimento, a sabedoria acumulada de quem viveu e aprendeu (rindo ou chorando, mas aprendeu a lição!).

É preciso que se determine o real respeito e o equilíbrio entre jovens profissionais (teoricamente preparados), com inteligência cognitiva, e os idosos (experientes e conhecedores do caminho das pedras), com inteligência emocional. Enfim, entre os ativos e os aposentados, os primeiros com serviços a prestar e os segundos com serviços prestados. O jovem fala e o idoso mostra o que fez por si e para os pósteros. Aquele ameaça rasgar caminhos; este entrega a estrada pronta. Esta é a convivência intergeracional. Sem o passado dos mais velhos para espelhar-se os jovens, não haverá seguro presente e menos ainda um promissor futuro.

Reverenciar o idoso é sem dúvida aceitar o amanhã, reconhecer o passado e preservar nossa memória que é sacrossanta para os sábios e às civilizações mais adiantadas. O Japão, a segunda maior potência industrial e econômica do Planeta, comemora o Dia de Respeito ao Idoso, particularmente o aniversário de 60 anos, considerado a completude zodiacal, a partir de quando são reverenciados e consultados. Na China, Inglaterra e, particularmente, no Oriente os mais velhos são considerados mais sábios, conselheiros, gurus.

É necessário que ações políticas e administrativas sejam encetadas à mudança dessa mentalidade brasileira, perversa e nazi-fascista que insiste em transformar os idosos em cacarecos, produtos descartáveis, desprezíveis, inúteis, lixo humano…

Existem, comprovadamente, do ponto de vista psico-social, espaços acessíveis aos mais velhos os quais são sabidamente mais aptos à administração, à chefia e ao comando. À execução de certas tarefas que exigem, atualização permanente e decisões estressantes, com prazos apertados e produção em alto grau, é lógico que os mais vigorosos, jovens e sadios devem assumí-las e desempenhá-las. Entrementes, paralelamente, podem e devem os idosos conviver e participar ativamente do cotidiano social e profissional, ainda que de maneira diferente e dentro dos seus limites psico-somáticos.

A história, como de resto a biologia, a sociologia, a antropologia, a psicologia, a cada dia desvendam a importância dos mais tarimbados, calejados pelo tempo e de sua participação na sadia e equilibrada na direção da res pública. Na política, que independe da tecnoburocracia, sobressaem nomes monumentais como de Getúlio Vargas, Rui Barbosa, Carlos Prestes, Castelo Branco, Ulisses Guimarães, Tancredo Neves, Miguel Arraes, José Sarney, Leonel Brizola, Darcy Ribeiro, João Paulo II, Rainha Elizabeth e tantos outros sem os quais a história seria contada diferente.

No entanto, ao analisar a presença do idoso na Administração Pública Brasileira podemos perceber que a representação dos mais maduros é bastante desigual, discriminatória e preconceituosa. Quantos assessores de governadores, de ministros, de secretários de Estado, de parlamentares, de desembargadores e de outras autoridades e dirigentes são maiores de 65 anos? Por mais lúcidos, eruditos, criativos e experientes que sejam, se não forem parentes ou bafejados politicamente, ficarão no limbo, no esquecimento, no anonimato.

Mesmo com o advento do Estatuto do Idoso esse quadro de exclusão não sofreu significativas modificações.

Esses fatos contribuem e forçam a criação de Associações de Defesa do Aposentado e do Idoso, de movimentos políticos junto aos parlamentares, ao Ministério Público, a Imprensa e as Universidades, em busca de políticas públicas de inserção, respeito e afirmação dos direitos e prerrogativas de quem, com o passado de trabalho e honradez, construiu o presente e o futuro dos jovens que os ignoram ou até escorraçam.

Não é justo criar-se guetos, apartheid para os idosos, enquanto os jovens fecham-se em copas, em redoma, ensimesmados, como donos do mundo e das verdades do Olimpo.

Basta, portanto, de práticas excludentes que tendem a afastar os idosos da estrutura formal do poder político e dos cargos de gerenciamento e comando de forma autoritária e irracional.

Em síntese, faço minha a assertiva de JUNG, o maior psiquiatra suíço, sobre o envelhecimento normal numa sociedade normal: “O anoitecer da vida deve também possuir um significado próprio e não pode ser, apenas, um apêndice lamentável da manhã da vida”.

 

 

 

José Adalberto Targino Araújo – Advogado e professor, Presidente da Academia de Letras Jurídicas/RN  e catedrático da Academia Brasileira de Ciências Morais e Políticas.

 

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