SUA EXCELÊNCIA, O BARBEIRO –

Procurei escrever um tratado sobre o barbeiro, porém me frustrei por não encontrar o verdadeiro dia que o louva. Diante da miscelânia de datas para o homenagear escolhi duas delas: 3 de janeiro, data promulgada pela Câmara Municipal do Rio de Janeiro, em 2010; e, 3 de novembro, data instituída pelo papa Paulo VI, por ser o dia consagrado a São Martinho de Porres, padroeiro dos cabeleireiros e barbeiros.

A profissão de barbeiro surgiu na Grécia antiga, quando pessoas portadoras de habilidades manuais cuidavam das barbas e cabelos de nobres e guerreiros. Consolidou-se através dos séculos e, considerando a necessidade básica do asseio e da boa aparência decorrente da vaidade masculina a tendência é que se perpetue “per saecula saeculorum.

Num passado não tão distante, os barbeiros além de cortar os cabelos e barbear os clientes, alugavam sanguessugas para médicos-cirurgiões e faziam curativos e intervenções de menor importância. Explorando a diferenciada aptidão com as mãos realizavam também extrações dentárias, visto que na época não existir a Odontologia.

A barbearia ao se tornar o ambiente de encontro de amigos e conhecidos, logo descambou para as infindáveis conversas sobre futebol, política, fofocas e ocorrências marcantes da comunidade, além de outros temas de interesse geral. Raramente ali acontecem desavenças agressivas por opiniões divergentes.

Outro ponto interessante no relacionamento barbeiro-cliente é a longa fidelidade criada entre ambos. Uma vez afeito ao barbeiro, a relação se consolida. Às vezes até que a morte os separe. Eu mesmo, desde que me entendo por gente, contabilizo no rol dos meus barbeiros preferenciais, apenas três profissionais.

Fui afastado de dois deles por interferência da “Moça Caetana” – estética feminina para definir a morte, segundo Ariano Suassuna. Cumprimento aqui o meu atual barbeiro, “Seu” Antônio, proprietário do Salão Santo Antônio, situado na Rua Joaquim Fagundes a um passo da Praça Augusto Leite, no Tirol. Um homem de bem!

Para o surgimento de galhofas, brincadeiras e piadas no ambiente descontraído das barbearias, envolvendo clientes e barbeiros foi uma questão de tempo. O repertório é vasto. Abaixo, transcrevo uma das mais criativas piadas de barbeiro:

“Indivíduo aparece na barbearia, olha o número de clientes esperando ser atendidos e pergunta ao barbeiro: ‘- Moço, em quanto tempo eu posso retornar para cortar o meu cabelo?’ Ouviu como resposta: ‘- Em duas horas!’. Ele saiu e não voltou.

Dois dias depois volta à barbearia, verifica a clientela do tal profissional e tasca a mesma pergunta: ‘- Em quanto tempo devo retornar?’ Ouve a seguinte resposta do barbeiro: ‘- Uma hora e meia!’. Como da vez anterior, saiu e não retornou.

Uma semana depois o indivíduo aparece às 13h, posta-se novamente à porta da barbearia, examina o ambiente, faz a pergunta das vezes anteriores e ouve a informação que lhe interessa, desta feita: ‘- Pode retornar às 16h!’. Após ouvir a resposta que desejava, saiu.

O barbeiro, entre curioso e aborrecido, pede a um cliente-amigo: ‘- André, eu corto o seu cabelo de graça se você me fizer o favor de seguir esse sujeito que saiu daqui agora e me informar o seu destino’. O cliente-amigo aceitou a proposta e em duas horas voltou, entrando na barbearia sorrindo. Antes de o barbeiro se manifestar, André acabou com o mistério:

 ‘- Ele foi para sua casa!’

 

 

José Narcelio Marques Sousa –  Engenheiro civil

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