SUSTENTÁCULO DA VIDA –

“Educai as crianças para que não seja necessário punir os adultos”. (Pitágoras, 570 a.C a 497 a.C)

 

A família é (ou era) o sustentáculo da vida. Com ela, aprendemos o que é ser ético, respeitar a diferença de cada ser, os limites que devemos ter, enfim. É (ou era) o fundamento para convivermos em sociedade. A família deveria nos encher de carinho e amor, ser o nosso bálsamo de segurança e conforto para enfrentar qualquer problema que venha adiante, na caminhada da vida.

A família deveria ser a base da sociedade e ser a principal responsável para transmitir cultura, valores, entre seus membros e para um desenvolvimento saudável para as novas gerações em nível psicológico, emocional, comportamental. Mas, atualmente, a desestruturação familiar – que envolve carência emocional e afetiva, produz e espalha muitas respostas negativas envolvendo toda a sociedade.

A carência afetiva pode surgir desde a infância, quando a própria família contribui para o desenvolvimento de distúrbios de comportamento emocional. Vejamos.

As crianças do século XXI estão mais inteligentes, mais investigativas, tem curiosidade sobre tudo, estão sempre conectadas em tudo que ocorre à sua volta. Seus passatempos são impulsionados a jogos eletrônicos interativos que estimulam o raciocínio rápido.

Todavia, paradoxalmente, a família de hoje, perdeu alguns valores (respeito, disciplina, solidariedade, honestidade, dignidade), gerando frustrações entre pais e filhos: percebe-se mais conflitos conjugais, englobando vários tipos de violência que não são bem compreendidos. Pais e mães ausentes: a “falta de tempo” dos pais, gerando a falta de diálogo e a não explicitação de limites sociais e psicológicos.

Adolescentes crescem sem noção de que sua vontade, seu direito, termina onde começa o do outro.

Por sua vez, os exemplos apresentados pelas programações das redes de televisão (aberta e fechada): violência, crimes, traições, drogas, sexo, apelativas e exibidas em qualquer horário; crianças e adolescentes que ficam dependentes o tempo todo do vídeo game (alguns muito violentos) e internet, os smartfones; possibilitando o isolamento entre os membros do núcleo familiar. Não existe mais conversa, diálogo.

Na verdade, o grande desafio da sociedade contemporânea é o aumento exponencial da complexidade de suas relações, as quais se tornaram descartáveis e “liquidas”, no dizer de Zygmunt Bauman.

Com um apelo irresistível para viver apenas o momento presente, num ritmo alucinante. Uma sociedade sem memória, sem história, e sem perspectiva de futuro.

Tudo sob o comando do deus mercado! É a vitória espetacular do “ter mais”.

Por outro lado, as desigualdades sociais não são mais suficientes para explicar as situações de risco e abandono em que vivem crianças e adolescentes em nosso país, e que propiciam marginalização, exclusão (psicológica e social). A maioria da população é invisível, e o sinal está fechado para os jovens.

Os fenômenos de vulnerabilidade social e crise de identidade pelos quais passa a sociedade estão relacionados ao enfraquecimento do tecido social e, portanto, a um forte sentimento de solidão e vazio existencial. Qual o sentido da vida, sem valores que a sustentem, e sem perspectiva de construir um futuro com dignidade?

As crianças e adolescentes que se encontram em situação de vulnerabilidade social são aquelas que vivem negativamente as consequências das desigualdades sociais; da falta de vínculos afetivos na família e na escola; da passagem abrupta da infância à vida adulta; da exploração do trabalho infantil; da falta de perspectivas profissionais e projetos para o futuro; do alto índice de reprovação e/ou evasão escolar; da oferta e consumo de drogas, do uso de armas, da prática de pequenos delitos, até ser cooptado pelo crime organizado.

Todos estes comportamentos facilitam para que muitos adolescentes procurem companhias como bandos, gangues, as vezes, facilitando também o surgimento de transtornos mentais, sem controle.

Vale ressaltar que famílias de classe média, aparentemente bem estruturadas, podem também ter pessoas com sérios problemas emocionais, com comportamentos inadequados perante a sociedade.

Quando essa vulnerabilidade se torna um processo de perda de noção do que é real e do que é imaginário, pode produzir transtornos capazes de gerar delírios ou impulsos destruidores, frutos diretos do vazio existencial iniciado – lamentavelmente – dentro do núcleo familiar.

Resumo da ópera: Na pós modernidade, sem o sustentáculo familiar – a vida se tornou descartável, cada vez mais imprevisível.

 

Rinaldo Barros é professor – rb@opiniaopolitica.com – www.opiniaopolitica.com

As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores
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