TÁ PROCURANDO O QUE? –

Estou no mesmo lugar de uma hora atrás. Não tomei o café que pensei em tomar. Isso deveria ter acontecido antes que eu me sentasse na mesa ao lado da minha cama, eu deveria ter seguido o ritual que murmurava em meus pensamentos: encher a caneca com café passado na hora, sentar à mesa, ligar o computador e tentar resgatar aquele texto esquecido desde a última quinzena.

Isso mesmo, eu deveria correr atrás dos pensamentos pausados de uma ideia que não vingou. Tudo pelo avesso, a minha inércia foi se engastalhando nos espaços soltos das pulsações pretéritas, que não queriam ser resgatadas, tudo isso, durante o tempo em que eu tentava formar, formular a desconstrução de um pensamento. Ainda deitada na rede, abri a “VEJA”, de um mês qualquer, nas suas últimas páginas. Folheei, como de costume, de trás para frente.

Lá, nas folhas lustrosas, procurei por textos em colunas aleatórias, para distrair e, quem sabe, buscar inspiração para a nova peça que iria montar o quebra-cabeça, que andava meio desconsertado com as ideias que se amontoavam na cachola. Política, economia, moda, filmes, redes sociais blá blá blá… coisas do tipo. No rádio, ouvia alguns clássicos da música. Nada mal para um fim de noite, de um domingo agitado. A caixa do e-mail continuava a piscar, lembrando-me que tenho novos e-mails não lidos, um deles, com certeza, seria me lembrando que precisaria romper com essa paralisia literária e chacoalhar às ideias para construir a desconstrução de um pensamento. Talvez um banho, frio de preferência (aprendi a gostar mais de banhos frios) purificasse meu filtro das reflexões e me trouxesse a clareza do que precisaria fazer naquele instante.

Eu sabia que esse seria o processo natural de criação literária, pelo menos para mim, até que eu pudesse pôr no papel o que havíamos discutido, eu comigo mesma, num monólogo pra lá de iliterato. Tudo bem, não havia nada que eu pudesse fazer quanto a isso, ou talvez não quisesse fazer. O fato era que não andava interessada em seguir normas, padrões estilizados de construções literárias, concebia-me como ser estranho, cheio de inquietudes quando das inventividades do pensar.

Essa angustia que antecede o nascimento de meus textos é quase uma marca minha… Isso seria sim, uma marca registrada nos “parimentos” de crônicas e prosas, entre versos, linhas e estrofes, entre parágrafos e neologismo, se eu não fosse tão inconstante. Afinal, o que eu estava mesmo procurando?

 

 

 

 

 

 

 

 

Flávia Arruda – Pedagoga e escritora, autora do livro As esquinas da minha existência, [email protected]

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