TATUAGEM – 

Nestes últimos meses precisamos comprar um novo fogão, uma nova cafeteira elétrica, uma nova TV, um novo celular. Não nos julguem! Não somos consumidores. Se bem que… Tenho cá meus vícios. Amo comprar canetinhas, post its e esmaltes. Além de livros, claro! Tirando estes pequenos e deliciosos vícios, não somos consumidores natos.

Entretanto, as coisas estão cada vez mais frágeis! O fogão tinha apenas cinco anos de uso e precisou ser substituído.

O forno já me deixava na mão. A TV nem três anos tinha. Ficou com sarampo: cheia de bolinhas! Será a maresia?

Ainda acho que não. Acho que tudo hoje tem sido feito para durar pouco tempo. Tudo é descartável. Copos, canudos, talheres, pratos. A moda nos diz que hoje devemos usar pratos redondos, mas amanhã já são os quadrados. As bandas fazem sucesso por um verão ou uma música. Não temos mais CDs, são as playlists do Spotify com o “top 50 do Brasil na semana”. Semana que vem nem lembramos quem estava no topo da semana anterior!

E, o pior!, isto serve para objetos e… Também para relacionamentos! Sim! Relacionamentos! Ouvi de uma mãe às vésperas do casamento da filha dizer:

– Fique tranquila. Se não der certo, separa!

Como assim? Este é o conselho? Onde está aquela orientação sobre o casamento ser construído aos poucos, com momentos de aprendizado, pois agora são dois mundos fundidos em um só? Tudo é descartável!

Não concordo com uma opinião? Deixo de seguir no Instagram e acabo a amizade. Não gosto de um restaurante? Detono-o no Facebook e crio tantos “causos” que o levo à falência. Descartabilidade…

E, na contramão, quase todos têm tatuagens. Tatuagens nas pernas, nas costas, nos ombros. Tatuagens no rosto, nos dedos, no pescoço. Tatuagens!

Como em uma sociedade tão volátil se faz algo tão permanente? Não entendo… não consigo entender… Só espero que as tatuagens tenham significado. Ou que sejam uma recordação que se firme de que a volatilidade deve ser esquecida. Isso serve para as fábricas (que melhorem seus produtos) e para as pessoas (que lutem pelos relacionamentos).

Acho que poucas vezes discordei com tanta veemência de um conselho dado por uma mãe como foi nesta conversa…

Esta discordância ficou tatuada em mim…

 

 

 

 

Bárbara Seabra – Cirurgiã-dentista, professora universitária e escritora

As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *