Parte do depoimento da técnica de enfermagem que vacinou crianças com doses de adulto vencidas em Lucena — Foto: Reprodução
Parte do depoimento da técnica de enfermagem que vacinou crianças com doses de adulto vencidas em Lucena — Foto: Reprodução

A técnica de enfermagem que vacinou pelo menos 48 crianças contra a Covid-19, utilizando doses da Pfizer para adultos, em Lucena, na Região Metropolitana de João Pessoa, disse ao Ministério Público Federal (MPF) que teria recebido ordens para vacinar todas as pessoas que estivessem na unidade de saúde. Além de inadequadas para a idade, a Secretaria de Estado da Saúde também investiga se as vacinas estavam vencidas.

O portal g1 teve acesso, nesta segunda-feira (17), ao depoimento dado pela profissional ao MPF, em uma videoconferência feita com uma procuradora da República e uma promotora de Justiça, na tarde de domingo (16). O caso veio à tona após mães das crianças denunciarem, no sábado (15), que seus filhos haviam sido vacinados antes do início da campanha oficial, com doses destinadas para adultos.

No depoimento, a técnica disse que foi contratada pela Prefeitura de Lucena em 22 de novembro de 2021, para auxiliar médicos e vacinar crianças, adolescentes, adultos e gestantes. Ela afirmou ter atuado inicialmente aplicando vacinas de rotina e, em dezembro, foi designada para aplicar vacinas de Covid-19.

A vacinação em crianças e adolescentes no município, segundo a técnica, teria acontecido em uma Unidade Básica de Saúde (UBS) e em uma âncora desta unidade em um assentamento, sendo que foram 36 pessoas, entre crianças, adolescentes e adultos, vacinadas no assentamento no dia 7 de janeiro de 2022 e as demais na UBS, nos dias 29 de dezembro de 2021 e 11 de janeiro de 2022, ou seja, antes de iniciar o calendário de vacinação para crianças entre 5 e 11 anos.

Conforme o documento, a técnica declarou que a função dela era vacinar, e que ela não tinha acesso ao cadastro de vacinação, que era preenchido por uma agente comunitária de saúde (ACS) e enviado à Secretaria de Saúde do município.

Em um determinado momento, a técnica teria questionado o setor de imunização da prefeitura de Lucena pelo fato de estar sozinha no local de vacinação, sem a presença de coordenadora, enfermeira, médica ou dentista, estando lá apenas ela, a ACS e um motorista.

No dia da aplicação, conforme a técnica, várias pessoas teriam aparecido no local, incluindo crianças e adolescentes, que receberam as mesmas doses dos adultos, de vacinas da Pfizer do lote FN3457.

A técnica informou que não sabia há quanto tempo a vacina estava armazenada, mas que trabalha com este lote e com o lote de final 3835, desde novembro de 2021. Segundo o secretário de Saúde da Paraíba, Geraldo Medeiros, as doses poderiam estar vencidas.

Ainda conforme o depoimento, a técnica declarou que a comunicação com a secretaria de saúde de Lucena era difícil, e que a mãe dela estava doente, e que isso teria atrapalhado o trabalho.

Em relação à ordem de vacinar todas as pessoas, a técnica reiterou que chegou a mandar uma mensagem de texto para a chefe de imunização do município perguntando se era para vacinar todas as pessoas e que recebeu “sim” como resposta. Ela disse ainda que, depois da troca de mensagens, recebeu uma ligação da chefe, que disse que era a ordem era vacinar porque as doses iriam vencer.

A técnica concluiu o depoimento dizendo que não recebeu treinamento sobre a vacinação de Covid-19 para adultos ou crianças, e que não foi informada de que havia diferença dos volumes das doses. Ela disse ainda ao MPF que não sabia que crianças não podiam ser vacinadas com as mesmas doses que os adultos. Ela afirmou também que não sabia da existência de vacinas pediátricas em Lucena.

Segundo Geraldo Medeiros, houve quatro treinamentos para aplicação de doses pediátricas, mas a equipe de Lucena não participou do treinamento.

Nesta segunda-feira, o MPF informou que já existe um procedimento aberto para acompanhar o caso. A assessoria de imprensa do órgão disse que ainda é prematuro afirmar algo no sentido de responsabilidade sobre o caso, pois as pessoas ainda estão sendo ouvidas e o MPF vai apurar não só no âmbito individual da pessoa que aplicou as vacinas, mas também do agente público, do município.

Fonte: G1

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