TELHADOS –

“Uma boa prática para cuidar do nosso telhado é orar
a Deus pelo telhado do vizinho”. (Josuá Costa)

Quando rapazinho sempre gostei de observar e subir em telhados. De lá, minha visão ainda em formação enxergava apenas os telhados dos vizinhos. Antes que você insinue algo, o que me chamava atenção eram as formas, as mudanças de direção, as quedas d’água e os tipos de telhas.

Esses momentos representavam para mim retidão, reflexão, conversação com Deus, projeção de sonhos e, às vezes, meu esconderijo. Aprendi com meu pai – Ranilson Costa – que devemos ver os fatos de um ponto mais alto, não por soberba, mas para ampliar a visão e melhor avaliar as consequências da vida.

Quanto mais e mais nos afastamos do único ponto de vista que temos sobre algo, mais adquirimos condições para um julgar com imparcialidade. Isso não quer dizer fugir do problema, mas ter outro ângulo de observação.

O cosmonauta soviético Iuri Gagarin, a bordo da nave Vostok 1, dando uma volta completa em órbita ao redor do planeta, em pleno voo disse a famosa frase: “A terra é azul”. A paz que ele experimentou, estando num ponto de visão privilegiado, ao observar as diferentes cores da superfície terrena (claras ou escuras), o fez unificar em apenas uma: azul (a harmonia).

Da janela do avião, vemos água, vegetação e luzes que brilham em alguma cidade. Tudo calmo! No entanto, no pouso, da mesma janela, o zoom vai tomando conta da nossa visão e vamos percebendo os detalhes das avenidas, das edificações, do frenético tráfego de veículos, das pessoas, até que estabiliza o nosso compreender: estamos diante da realidade!

Enquanto do alto tudo era sereno, aqui, diante do cotidiano, os problemas afloram pela pressa, pela divergência de interesses, pela indiferença, pelo egoísmo, pelo o “primeiro eu”, enfim por tantos descaminhos do amor.

Ainda hoje, em qualquer lugar que eu esteja, busco a visão dos telhados. Neles exercito a minha imaginação por acreditar que, sob seu abrigo, encantos e desencantos iniciam e terminam relações de amizade. No entanto, sob esses mesmos tetos, sonhos, lutas, quedas e soerguimentos, sorrisos e choros, amores e desavenças, uniões e desuniões, perturbações da saúde e do espírito, pensamentos vagos e ideias brilhantes, desejos e traições, alegrias e tristezas, esforços e ócios, e tudo o mais que o ser humano é capaz de gerir, estão em ebulição sob os telhados.

E que bom que esses telhados não são de vidro transparente, pois, se assim fosse, poderíamos perder a nossa capacidade de imaginação e, possivelmente, seríamos puramente razão.

Descubra você o quanto os telhados dizem sobre nós, porém não esqueça de que sobre eles existe um outro, muito mais amplo e misericordioso, que é o amor do Pai, que nos agasalha em toda a Sua plenitude.

Sou um aprendiz dos telhados e neles sou um ‘sentinela’, que posso pensar nos meus medos, conversar com o mundo, listar minha gratidão e revigorar a minha alma . Lembre-se que olhar do alto serve apenas para refletir sobre as decisões que temos que tomar – ter uma visão de intérprete – inclusive sobre nós mesmos, e não para realçar manifestações ostensivas de superioridade ou de menosprezo pelo outro.

De hoje em diante dê chance ao seu olhar e, de qualquer janela, contemple os telhados que guardam histórias de vidas.

Sei que muitos não têm o seu próprio telhado, mas têm o céu estrelado com o sorriso de Deus.

 

 

 

 

 

Carlos Alberto Josuá Costa – Engenheiro Civil, escritor e Membro da Academia Macaibense de Letras ([email protected])

As opiniões contidas nos artigos/crônicas são de responsabilidade dos colaboradores

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