TEM GENTE BOA? –
É comum separarmos os lugares, as profissões e as pessoas entre as que “prestam” e as que não “prestam”. “Essa profissão é composta apenas por corruptos, aquela outra só tem pessoas maliciosas ou sabidas”. Essa é apenas mais uma forma tola que criamos para julgar e segregar o próximo.
É muito bom se entregar à boataria, “meter o pau” em alguém, até mesmo porque “se o mundo inteiro fala de mim e sou só eu para falar do mundo, estou em desvantagem”. O fato é que é muito confortável se sentar na cadeira do juiz e deixar a berlinda para o irmão. É muito menos comprometedor encontrar defeitos nos outros, é mais fácil maldizer que enxergar a si e mudar.
Em toda profissão, em todo lugar, dentro de cada um, existem particularidades que vão além dos julgamentos, existem facetas que tornam impossível classificar cada coisa com uma etiqueta única. Generalizamos tanto que perdemos o tino quando algo foge, mesmo que pouco, dos nossos pré-criados padrões.
Creditamos às pessoas que gostam e tratam bem os animais um bom caráter e temperamento, mas o que fazer diante da informação de que Hitler tinha verdadeira paixão pelos bichos? O que fazer diante da notícia de que um deputado federal recusa benefícios econômicos advindos de seu cargo e que isso poupará aproximadamente dois milhões aos cofres públicos? Como reagir quando tomamos conhecimento de que um médico, uma pessoa que deveria salvar vidas, pratica abortos sem culpa?
Como devemos agir diante de informações tão contraditórias e que só mostram as múltiplas facetas do ser humano? Que parâmetros devemos ter para julgar A ou B, sua profissão, seu nível de escolaridade, sua conta bancária? Essas não são, com certeza, as perguntas certas, o X da questão é: por que precisamos julgar o próximo? Por que etiquetar cada criatura, imprimindo-lhes características perenes se nós somos racionais, aptos a pensar e mudar de ideia? Por que obrigar as pessoas a formarem um padrão monocromático quando não somos capazes, nós mesmos, de segui-lo?
O tão combatido preconceito engloba mais do que etnia, religião e opção sexual. O âmago do preconceito é negar aceitação àqueles que são diferentes do “meu” padrão de normalidade e é isso que deve ser combatido, é aceitar a singularidade de cada criatura que deve ser ensinado. Não somos compostos de um único elemento, não fomos moldados na mesma forma. São as diferenças existentes entre cada um que permite que sejamos únicos e especiais.
É de suma importância para a evolução do nosso povo que saibamos compreender e respeitar, para, em troca, sermos compreendidos e respeitados. A união é o único elemento comum e transformador, que tem o supremo poder de mudar a realidade de todos. e o primeiro passo para a união é a aceitação de si mesmo e do próximo. Sem isso, seremos frágeis. Sem isso, seremos sós.
Ana Luíza Rabelo Spencer, advogada (rabelospencer@ymail.com)
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