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Temperatura média no Sudeste subiu 1,1ºC em 49 anos e principal motivo é efeito estufa, diz pesquisa da USP

Termômetro registra calor de 35°C no dia 12 de setembro de 2019 na Avenida Paulista, em São Paulo — Foto: Cris Faga/Estadão Conteúdo

A temperatura média na região Sudeste do Brasil aumentou 1,1ºC em 49 anos – entre 1955 e 2004 – e a principal razão do aumento foi o efeito estufa. A conclusão é de pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), que atuaram em conjunto com a Universidade de Edimburgo, do Reino Unido.

O aumento de temperatura foi ainda maior na cidade de São Paulo: o acréscimo nas médias foi de cerca de 2ºC na cidade no mesmo período. Na capital, os pesquisadores acreditam que, além do efeito estufa, também haja grande influência da urbanização no aumento.

Os pesquisadores utilizaram um modelo matemático inovador para verificar qual foi a principal razão para a alta dos termômetros e comprovaram que ela está relacionada ao crescimento da concentração de gases de efeito estufa na atmosfera, resultante de ações humanas. O estudo tem grau de confiabilidade de 95%.

Os autores destacam que a região Sudeste do país é especialmente vulnerável às mudanças climáticas porque abriga mais de 40% da população brasileira e é responsável por 50% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, com uma ampla gama de atividades econômicas.

Efeito estufa

O principal feito do estudo foi comprovar a influência do efeito estufa no aquecimento de uma região específica, segundo Humberto Ribeiro da Rocha, professor do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP e coordenador do projeto.

Isso foi feito por meio de um modelo matemático que testou três hipóteses para o aumento nas médias:

  • Causas naturais, como variabilidade da radiação solar e efeitos de atividades vulcânicas;
  • Presença de partículas de aerossóis na atmosfera;
  • Concentração de gases do efeito estufa.

As três possibilidades foram submetidas a um método estatístico de detecção e atribuição de impacto em mudanças climáticas. Dentre elas, a única que teve impacto relevante nas mudanças de temperatura do Sudeste foi o efeito estufa.

Os cálculos foram feitos pelo meteorologista Rafael Cesário de Abreu durante seu doutorado, sob orientação de Rocha.

Segundo Rafael de Abreu, uma singularidade desse estudo é chegar a conclusões com alto grau de confiabilidade.

O efeito estufa é um fenômeno natural no qual a atmosfera da Terra retém o calor que é irradiado pelo Sol e reflete na superfície, ou emitido da Terra para o espaço. Os gases do efeito estufa são substâncias que absorvem parte da radiação emitida pela superfície terrestre e dificultam seu escape para o espaço.

Uma das consequências naturais do efeito estufa é o fato de a temperatura na Terra ser agradável e adequada para as pessoas. Ele é essencial para a manutenção do calor no planeta: se não fosse por ele, as pessoas morreriam de frio.

O problema começa quando a emissão de gases passa a ser excessiva, principalmente de dióxido de carbono. A retenção de calor, que é o resultado da intensificação do efeito estufa, causa o aumento das temperaturas médias do planeta e das águas dos oceanos.

Segundo Rocha, o aumento nas temperaturas do Sudeste não tem necessariamente relação com aumento nas emissões na região. Isto porque os gases do efeito estufa se movem rapidamente na atmosfera.

“A concentração de gases do efeito estufa tende a ser homogênea. Mesmo que as emissões sejam maiores em países ricos, os gases estufa em alguns meses já estão totalmente distribuídos”, explica o pesquisador.

Cenário em SP

O aumento da temperatura na cidade de São Paulo foi ainda superior ao verificado na região Sudeste. Para os pesquisadores, trata-se de um efeito da urbanização, que é combinada aos resultados do efeito estufa.

“Muito provavelmente temos o efeito da urbanização adicional ao efeito estufa. Um dos efeitos da urbanização é retenção de calor nas edificações e no pavimento, que é retido durante o dia e liberado de volta no fim da tarde e à noite”, diz Humberto Rocha.

“Além disso há ainda o calor produzido por motores, tanto estacionários quanto veiculares, e também as consequências da redução de áreas verdes e da impermeabilização do solo.”

Segundo os especialistas, mudanças no uso da terra para agropecuária, por exemplo, também podem ter impactos significativos na temperatura local. Por isso, algumas cidades no Sudeste onde queimadas e desmatamento ocorreram com maior intensidade também podem ter experimentado aumento de temperatura superior ao verificado em toda a região.

Aquecimento global

Diversos estudos comprovam a influência do efeito estufa no aumento de temperatura. Em 2018, um novo recorde de emissão de gases de efeito estufa na atmosfera foi batido. Segundo o relatório “Estado do Clima 2018”, divulgado pela Sociedade Americana de Meteorologia, a emissão de gases como dióxido de carbono, metano e óxido nitroso seguiu aumentando e, combinados com outros gases conhecidos como halogenados, já têm um efeito de aquecimento 43% maior do que em 1990.

Estudos regionais, como este feito pela USP, conseguem medir o impacto do fenômeno em regiões sensíveis, como o Sudeste brasileiro.

“As investigações das consequências do efeito estufa estão sendo feitas independentemente por vários grupos em todo o mundo. Nós aqui fizemos um estudo regional e comprovamos essa causa: o efeito estufa de origem antrópica, o homem como responsável pelas emissões”, explica Humberto Rocha.

Para ele, o fato de sua conclusão concordar com uma tendência global é motivo de preocupação, porque ações locais podem não ser suficientes para reverter o quadro. “Boa parte do aquecimento que está se manifestando aqui na nossa região vem de causas globais”, avalia.

“O fenômeno de aquecimento pelo efeito estufa está particularmente controlando o clima do Sudeste e nós não vemos uma tendência de mudanças nos próximos anos, a tendência é que continue aquecendo. Mesmo que a cidade pare de crescer, vai continuar aquecendo, e isto é grave”, explica Humberto Rocha.

Fonte: G1

Ponto de Vista

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