Flávio Rezende*
Ao longo de nossa passagem pela materialidade ao tempo em que existimos, vamos gostando de coisas e mais coisas e, depois, valorizando mais outras e, abandonando algumas, ou até mesmo deixando no cantinho para que não morram e possam voltar – ou não, em novos tempos ou em momentos a posteriori.
E nesse gostar e odiar coisas e mais coisas, o tempo dessas coisas é o tempo dessas coisas, sem que aparentemente possamos conscientemente dizer por quais e tais motivos as coisas são importantes em alguns momentos e, em outros, são meras lembranças. A vida é assim e nenhuma filosofia mais complexa e profunda tira da transitoriedade das coisas, essa coisa das coisas serem assim e assim são e pronto.
E essas coisas que são e essas coisas que foram e essas coisas que serão, são coisas que jogamos carinhoso olhar no retrovisor ou que no momento gostamos de falar sobre as mesmas, lembrando agora de quantas coisas já gostei e que hoje não tem mais importância alguma, citando as lutas de boxe que envolviam Muhammad Ali, Joe Frazie, Mike Tyson, George Foreman; a Fórmula 1 com Senna; os clássicos Flamengo e Fluminense, mantendo apenas relativo interesse por futebol, mais em solidariedade a meu filho Gabriel Kalki que quer ser jogador, que mesmo por achar muito legal os jogos e pelejas atuais.
Assuntos que já dominaram minha mente e eram temas constantes em meus “escritos”, hoje são apenas reminiscências como a questão ecológica que continuo gostando mais no aspecto de cumprir minhas obrigações para um mundo melhor, mas nada que me ocupe mais que leituras e presença em eventos pontuais. A questão da religião, onde fui entusiasta militante, hoje é interessante no que diz respeito agregar uma ética ao existir, ficando cada vez mais claro que a essência religiosa de tudo é uma postura e que todas as coisas relacionadas, são apenas experiências dos outros e, que em determinados momentos, servem ou não servem para condutas que julgo corretas em meu existir terreno.
E nesse fluir atualmente tenho me interessado em escrever sobre a questão política nacional e, vários amigos em grupos de convivência cibernética, criticam certa constância e insistência neste setor, no que respondo, que fosse eu cirurgião, certamente passaria o dia realizando procedimentos relativos a este mister ou, fosse corretor, igualmente estaria tecendo loas sobre apartamentos e mansões, buscando potenciais compradores para os imóveis que estivessem a venda neste universo comercial tão dinâmico na atualidade.
Como sou escritor e jornalista e movido sempre a prática da escrita, é esse assunto que me inspira e me vem à mente, pedindo perdão a quem se incomoda, mas ao mesmo tempo pedindo vênia posto que livre, posso divagar e expressar o que bem entenda, ficando a critério do leitor ler ou não, concordar ou não, sendo normal e democrático o processo de balançar a cabeça afirmativamente ou negativamente, em lagartixística participação neste relacionamento que os escritores mantém com seu público receptor.
Pode ser que essa coisa de criticar as posturas do Partido dos Trabalhadores na atualidade seja coisa de marido traído. Como era simpatizante, votante e defensor intransigente do PT, acreditava piamente que ele mudaria todas as práticas políticas vigentes, implantando verdadeiramente posturas corretas e éticas neste mar de lama em que nos encontramos faz tempo.
O fato de descobrir que era tudo farsa, que por debaixo do pano a prática dos líderes era igual ou pior de tudo que tanto falávamos e combatíamos, tudo isso me levou a um estado de chateação tão grande, uma amargura, uma perda de esperança tão profunda, que encontrei nessa coisa de baixar o cacete, uma certa remediação, uma certa obrigação para comigo mesmo e, nesta coisa ainda presente, continuarei até que um outro assunto, se faça presente e, minha mente, naturalmente, passe a gostar, se inspirar e simpatizar com algum outro assunto.
Enquanto isso não acontece, sigo fazendo o que gosto, expondo o que vem de dentro para que externamente, possa ter serventia para alguém ou, simplesmente, extravase algo que é natural em quem produz textos como vício e com essa coisa de satisfação pessoal e profissional.
*Flavio Rezende – É escritor, jornalista e ativista social em Natal/RN ([email protected])