diogenes

É preciso reter teu lindo instante

antes que o tempo tome de ti em sua mão.

(De uma canção que fiz e quase esqueci)

Após a tristeza da Copa, anuncio que muitos brasileiros nativos ou adotados estão florando. Novembros, a craibeira, o pau-d’arco, o cajueiro, a mangueira, o pau-ferro estarão florando.  Cobrem-se de flores alegrando os nossos olhos de amarelo e de roxo.  Há flores vermelhas, brancas dos jasmins, o flamboyant com seu buquê encarnado. Estão florando a maçaranduba, o guajiru, a guabiraba, a catingueira, o cajá-manga. Floram a mangabeira, o araçá, floram floreiras. As flores têm cor, matizes, forma e cheiros que despertam emoções e imaginação.  Fagner chega a cantar, dizendo que no quintal: “tem um pé de sonho / que não para de florar.” É da sabedoria de Salomão que tudo tem o seu tempo. Um baobá flora uma vez por ano, quase sempre em dezembro.  Começa com um botão verde, abre em branco, fica creme, marrom, a flor fica seca em violeta.  As xananas floram o ano inteiro, todas as manhãs e em qualquer canto de muro, floram na floreira trazidas por passarinhos agricultores.

O meu compadre Marcos Aurélio de Sá me disse que no Açu as mangueiras estão florando fora de época.  A indução é feita pelo stress.  As árvores são irrigadas, dia após dia, e, subitamente, suspendem a irrigação. Nascem flores. Marcos está fazendo uma experiência singular: reflorestando a sua fazenda em Macau com o nativo e especial verde do juazeiro: são duas mil mudas.  Acho mesmo que ele está fazendo mais do que isso, está plantando uma ideia.

O relógio biológico das plantas sabe qual é o melhor momento para a floração.  Agora, pesquisadores do Scripps Research Institute, dos Estados Unidos, descobriram que podem provocar, em laboratório, quando quiserem, o surgimento de flor nas plantas.  O fato se deve à descoberta de que fotorreceptores dos vegetais trabalham durante a insolação, dia após dia. Emitem duas proteínas, uma, criptocromo, de luz azul; outra, fitocromo, de luz vermelha.  Da relação entre as duas nasce a flor.

As luzes seriam a alma das plantas?  Os poetas Guilherme de Almeida e Augusto dos Anjos fazem acreditar que as árvores têm alma.  Constato que uma simples folha é um milagre da natureza.  É uma miniusina de energia.  Sua função consiste em gerar energia para a planta. Captar luz do sol e transformar água e gás carbônico para combustível.  Muitas vezes, a folha pode competir em beleza com uma flor. Veja atentamente o seu formato, a nervura central, a textura, a coloração, a sua delicada e única beleza.

A flor, todos sabem, guarda o órgão reprodutor. A polinização é feita com concurso de besouros, borboletas, abelhas, aves e até do morcego.

A flor serve para tudo: medicamento, decoração, alimento, remédio, é essencial às festas e aos sepultamentos chorosos. A flor dá nome a cidades. A capital da beleza artística do mundo, que já foi capital da Itália, é Florença. Um florentino tomou posse do Brasil, em nome do Rei de Portugal, na Praia do Marco, ligando-se à história norte-rio-grandense, Américo Vespúcio. A brasileira Blumenau tem nome vindo de flor. Assim também as potiguares Florânia e Vila Flor.

Flor é sempre carregada de significação simbólica.  Quem diz flor-de-lis recorda a França.  Flor simboliza a virgindade, como explicita o verbo deflorar. A palavra antologia significa uma coleção de flores, literárias.  Flor lembra o mais bonito, o melhor possível, a fina flor, a nata, a flor da água.  A flor também é símbolo da beleza, principalmente a feminina, da fugacidade, do efêmero e passageiro da vida.

Não gosto do verbo florir, tão usado pelos sulistas, ainda que rime com sorrir. Prefiro o nordestino florado. Gosto de floração e florescer, não de florejar.

Florar, o nosso país é o país da flora, da rica biodiversidade. O Brasil agora está florando, é preciso florar: toda mulher e todo homem, antes que o tempo tome de ti em sua mão.

Diógenes da Cunha Lima – Advogado, Professor, Poeta, Escritor, Presidente da Academia Norte-riograndense de Letras    [email protected]

 

 

 

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