TEMPO DO FIM –
Quanto tempo ainda temos antes do fim? Esta pergunta incomoda muita gente, pois nos coloca diante do fato incontestável: a cada dia estamos mais próximos ao fim da estrada. A História, vista pela perspectiva cristã, caminha para um determinado objetivo. Chegará o dia em que a humanidade, cumprida a sua caminhada, será convidada a retirar-se deste cenário. Nesse dia, a História terá alcançado o seu fim.
Duas reações são comuns diante da pergunta acerca do fim da História: algumas pessoas, imaginando que o fim está prestes a chegar, são tomadas pelo desespero e atiram-se nos braços do primeiro carismático que aparecer prometendo este ou aquele caminho para a salvação da humanidade. Outras, indiferentes à questão, agem como se tivessem todo o tempo do mundo à sua disposição. O meio termo entre o desespero e a indiferença não apenas é possível, mas é o desejável.
Em sua lição acerca do fim, Jesus Cristo profetiza simultaneamente a respeito da destruição de Jerusalém no ano 70 da era cristã e do fim da História ou do fim do mundo, como se diz comumente. Segundo ele, alguns sinais indicarão a proximidade do fim. Terremotos, guerras, fome e perseguição religiosa são apenas alguns deles, pelo relato do Sermão Profético do Evangelho de Marcos.
Ora, mas esses sinais sempre estiveram presente na História! Em que momento não teve a humanidade que conviver com a irracionalidade da guerra? Quando foi que os homens conseguiram ser solidários o suficiente para erradicar a fome da face da terra? Ou quando não foi a terra agitada por terremotos, furacões e demais manifestação da natureza? Sendo assim, talvez devamos concluir que o fim sempre esteve muito próximo de nós, pelo menos enquanto possibilidade.
Falar da proximidade do fim, enquanto possibilidade, é o mesmo que dizer que ele tanto pode acontecer amanhã de manhã quanto daqui a outros dois mil anos. Dizer que é possível que o fim ocorra imediatamente não significa dizer que ele certamente ocorrerá de imediato. É possível que ocorra já, porque as condições para isto já estão presentes. Entretanto tais condição não determinam o fim imediato, apenas anunciam sua possível chegada. Uma coisa é certa: estamos no princípio do fim! Falando grosso modo, seria como dizer que é possível haver um acidente aéreo amanhã de manhã. Possível realmente é, pois amanhã haverá aviões voando (esta é a condição essencial para um acidente aéreo). Entretanto, o fato de existir, em algum dado momento, a condição essencial para a ocorrência de um evento não significa que tal evento certamente ocorrerá naquele momento. De igual modo, é possível que o fim não demore, pois os sinais de sua proximidade já podem ser vistos desde longa data. Mas é igualmente possível que ele demore ainda outro tanto para chegar. Não há como saber. Neste caso, recomenda a prudência que se aposte em sua proximidade como medida de precaução — se apostarmos que o fim será em breve e ele demorar, não perderemos nada; mas se apostarmos na sua demora e errarmos, talvez tenhamos perdido toda a vida.
Josoniel Fonsêca – Advogado e Professor Universitário, membro da Academia de Letras Jurídicas do Rio Grande do Norte – ALEJURN, josonielfonseca@uol.com.br
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