TEMPOS QUASE PUROS –
Enquanto os anos 1960 herdavam a euforia desenvolvimentista dos anos JK, o Brasil experimentava uma época de importantes transformações sociais e políticas. Era inaugurada Brasília, a nova Capital; Jânio Quadros era eleito Presidente, com João Goulart de vice, pela chapa adversária; a nossa população chegava aos 70 milhões; a Bossa Nova realizava o seu primeiro encontro formal, na Escola de Arquitetura do Rio de Janeiro, ocasião em que se destacaram os nomes de João Gilberto, Antônio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes; o país ainda estava digerindo a controvertida renúncia de Jânio quando Celi Campelo, a cativante rainha dos adolescentes, começava a impressionar os fãs com a sua graça o seu rock’n roll brasileiro, interpretando sucessos internacionais versados para o português.
Foi, com certeza, a primeira estrela do rock nacional. Muitos de nós ainda estávamos sob o feitiço das modinhas, boleros e sambas-canção, reverenciando e cantando as músicas de autores e intérpretes consagrados desde os anos 1940. Sem esquecer de Vicente Celestino, Silvio Caldas, Orlando Silva, Dalva de Oliveira, Ângela Maria e até do muito popular cubano Bienvenido Granda, aos poucos, entretanto, fomos tomando conhecimento e absorvendo as novas tendências musicais popularizadas pelas bandas e pelos cantores do rock norte-americano. Com um pouco de atenção, já dava para identificar o It’s Now or Never, de Elvis Presley, o Let’s Twist Again, de Chubby Checker, e o Tutti Frutti, de Little Richard.
Em meados dos emblemáticos “nossos” anos 60, um considerável grupo de artistas brasileiros, sintonizados com o fenômeno do rock internacional e influenciados por bandas como The Beatles, por exemplo, primeiro com versões de músicas estrangeiras, e depois com suas próprias letras em português, com guitarras e baixos elétricos, teclados e baterias, iniciavam um movimento que misturava música, moda e comportamento. Foi assim que nasceu a denominada Jovem Guarda. Era um verdadeiro celeiro de cantores e cantoras, interpretando amores ingênuos e puros, embalando as incertezas e inseguranças de uma época difícil de entender ou aceitar. Impotentes diante de um avassalador e opressivo quadro político, os jovens procuravam, na música e nos embalos, uma barra-limpa, para não dar mancada ou ficar lelé-da-cuca com intolerantes e insensíveis medidas econômicas e políticas perpetradas pelos coroas do poder.
Roberto Carlos ainda não era o Rei, mas já fazia um som legal, e já detinha um papo firme com poder de aglutinar ao seu redor vários outros nomes de gente também pra frente, capazes de provocar, com o doce enlevo das suas canções, prazeres e alegrias nos brotos e nas maninhas, destinatários da sua música. Foi assim com Erasmo Carlos, Wanderléa, Martinha, Vanusa, integrantes da primeira corte do futuro Rei Roberto; foi assim com Rossini Pinto, importante compositor da Jovem Guarda, assim como Antônio Marcos, também excelente cantor. E quem esquece dos boa-pinta, dos galãs que também cantavam? Wanderley Cardoso, Márcio Greyck, Sérgio Murilo, Ed Wilson? Entre as duplas que fizeram sucesso, Leno e Lilian, Eduardo Araújo e Sylvinha, os irmãos Deny e Dino, e Os Vips. Nunca esquecer da doce voz de Evinha, de uma família de notáveis cantores de conjuntos, como o Trio Esperança e os Golden Boys, este ainda em atividade. E nem precisaríamos falar de Renato e seus Blue Caps, Os Incríveis, The Fevers, The Pops; das alegres canções de Waldirene; de Bobby de Carlo; Ronnie Von, o elegante Príncipe, suposto “sucessor” de Roberto Carlos, assim como já o fora o talentoso Paulo Sérgio, cantor e compositor; Jerry Adriani, antes intérprete de músicas italianas; Sérgio Reis, que aderiu ao gênero “sertanejo”, e o celebrado Reginaldo Rossi, que encerrou a carreira como um dito cantor brega.
Alberto da Hora – escritor, cordelista, músico, cantor e regente de corais
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