DIOGENES DA CUNHA LIMA

Diógenes Da Cunha Lima

“Sou avô em plena avolescência”. (Do ensaísta, romancista, avô de Pedro, poeta José Nêumanne Pinto).

Avolescência, neologismo neumaniano, ainda não faz parte da terminologia científica.  Sei, contudo, e isso me conforta, que um dia a avolescência será tão estudada nos compêndios de psicólogos e psicanalistas quanto é a fase da adolescência. Certamente chegará a ser tema de teses universitárias.

Nas civilizações indígenas, a adolescência era vivenciada no chamado “rito de passagem” quando, então, era proclamada a passagem da infância para a adultícia.  Todo mundo sabe que a adolescência é o período de transição que começa com a puberdade, entre 12 e 13 anos, e se estende até em torno dos 20 quando o indivíduo adquire independência emocional e suposta viabilidade econômica. Fase de contestações, de mitos e de heróis. A avolescência começa, geralmente, com o nascimento do primeiro neto, a avó ou avô têm cerca de cinqüenta anos, quando não precoces, e permanece até quando houver lucidez.  É o momento mais rico da vida.

Traçando um paradigma, a adolescência passou a ser definida a partir do século XIX, a avolescência, certamente, o será neste século. Assunto de novo milênio

Avô vem do latim avus, o antigo da tribo.  Ele recebe, no corpo e na alma, transformações paralelas às dos adolescentes.  Entretanto, a avolescência é uma flor que não floresce em qualquer jardim, mas somente em jardins escolhidos por Deus.

O avolescente tem uma nova escala de valores, uma melhoria de liberdade do pensamento. O avô é um pai não-normativo.  O adolescente não aceita cobranças, o avô não aceita que se cobre dos netos.  Saibam, pois, os pais: avós e adolescente não são domesticáveis, não conseguem viver sob controle, não gostam de ordens ou conselhos. Não os consideram necessários.     Afinal de contas, a avolescência é uma segunda adolescência, uma adolescência mais doce.

Conto duas pequenas estórias ilustrativas.  Meu neto Lucas, 7, convida um colega dizendo: “Vamos para casa do meu avô. Lá a gente pode tudo”. E tinha razão.  Já Lara, 4, insiste em tomar chocolate antes do jantar.  A mãe proíbe.  Uso da minha autoridade avolescente para “conciliar”: você só pode tomar dois todinhos, e somente dois!  Está me ouvindo? ….

O adolescente, geralmente, não sabe ser filho porque não compreende o sentimento de pai ou mãe.  Isso não se explica com palavras.  Só se sabe o que é que sente pai ou mãe depois que se é. O adolescente faz, algumas vezes, o contrário do que pensam os pais.  O avolescente faz aos netos o contrário do que pensam os filhos.  Os pais, com a missão de educar, adiam desejos.  Os avós em flor realizam desejos.  Os jovens desejam permissividade, os avós não proíbem.  Ambos querem viver a vida intensamente.

Do ponto de vista físico, quando chega a adolescência, surgem os pelos e se improvisam função para o sexo recém-descoberto.  Nos avolescentes os cabelos embranquecem e quase nada é improvisado.

É verdade que o entendimento é tão perfeito entre avós e netos, que honram uns aos outros, naturalmente.  A sabedoria bíblica não precisou fixar no quarto Mandamento: Honrar avô e avó.  Os netos já honram, naturalmente, por certa identificação e entendimento, os avós.

Na avolescência, concluo, descobrimos os valores essenciais, o deslumbramento com a vida, a sedução, ou melhor, a graça que pode ter uma maturidade iluminada pelos netos.

Diógenes Da Cunha Lima –  Esritor, Poeta e Presidente da Academia de Letras doRN

 

 

 

 

 

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