A TERCEIRA VIA –
A conversa de hoje tem o condão de religar as vidas de milhões de pessoas com a história recente e com a busca desesperada de uma teoria que mostre a saída para a crise que se aprofunda no mundo globalizado. Vejamos.
As recentes notícias de dezenas de brasileiros que tiveram a sua entrada negada na Espanha trazem à tona uma realidade que, até algum tempo, era desconhecida: os maus-tratos sofridos por aqueles que viajam para outros países. Somente no ano passado, a Espanha impediu a entrada de três mil brasileiros.
Estima-se que mais da metade dos migrantes brasileiros que cruzam as fronteiras o fazem de maneira ilegal. Os consulados que mais informam a detenção de brasileiros no exterior são Miami (1.200 presos), Madri (400), Nagoya, no Japão (224), e Lisboa. Na verdade, os migrantes ilegais são pessoas que topam todos os riscos de uma viagem clandestina em busca de uma vida melhor, e acabam, às vezes, ficando vulneráveis à marginalidade por falta de boas oportunidades de trabalho.
É importante entender que o endurecimento das exigências para os imigrantes é resultado de uma crise do sistema, a qual vem crescendo há quase duas décadas. Vejamos.
Com a queda do Muro de Berlim, em 1989 e, dois anos depois, da URSS, encerrou-se o modelo soviético de revolução comunista. Os efeitos desastrosos de mais de 70 anos de ditadura do proletariado na Rússia e nos países satélites ficaram expostos aos olhos do mundo.
A Alemanha ali despejou centenas de bilhões de dólares, depois da unificação. Apesar disso, tal política ficou frustrada, e é apontada como uma das causas da recente derrota eleitoral de Helmut Kohl.
Por razões que escapam aos limites deste artigo, também na Rússia essa maciça inversão de capital teve insucesso. E a bancarrota da Rússia está na origem de desequilíbrios financeiros e econômicos muito além de suas fronteiras. Tais fracassos seriam absorvíveis se o capitalismo globalizado não estivesse também em crise.
Cabe lembrar, de passagem, a crise financeira que assolou seriamente e ainda abala a economia de países asiáticos. O próprio Japão não escapou ao furacão financeiro.
Constata-se que países que adotaram o modelo do capitalismo globalizado estão encontrando dificuldades cada vez maiores para solucionar seus problemas. A ganância, a busca desenfreada de riquezas, sem falar nas guerras, tem produzido distorções até mesmo na robusta economia norte-americana, hoje na marca do pênalti para entrar em recessão.
A propósito, de acordo com o chefe do FMI, Dominique Strauss-Kahn, os países emergentes também serão afetados pela crise financeira que, no momento, atinge principalmente os Estados Unidos e os países mais desenvolvidos.
A intelligentsia de esquerda, em nível internacional, vem denunciando o fracasso de ambos os modelos, e sugerindo algo novo. Nem capitalismo neoliberal, nem comunismo estatista: a saída está na Terceira Via. Que danado será isso?
Ora, se a chamada Primeira Via se referia às ideias socialistas tradicionais, radicais e estatais em si mesmas, e a Segunda, ao neoliberalismo e ao fundamentalismo de mercado; a Terceira Via seria a busca da renovação da democracia social nas condições contemporâneas.
O foco deste artigo, portanto, é o debate da forma como esta Terceira Via poderá contribuir para o progresso das nações.
Isso significa oferecer respostas a três mudanças que afetaram o mundo nas últimas décadas: 1) a globalização; 2) a emergência do conhecimento, incluindo-se aí a Internet, e as profundas mudanças na vida cotidiana das pessoas, com a ascensão do individualismo e; 3) a inserção definitiva da mulher no mercado de trabalho, entre outros fatores.
Resumo da ópera: a Terceira Via seria a gradativa implementação de uma economia inclusiva e pujante, servindo de base para uma sociedade democrática, com desenvolvimento sustentável, controle social e pleno emprego.
Para concluir, aqui no patropi, as forças políticas que sustentaram o governo de Michel Temer nestes difíceis, tumultuados últimos 12 meses devem entender que têm um compromisso não com o atual presidente da República, mas com a Nação. Sem o apoio delas, não haverá futuro. Não para o governo, mas para o Brasil. Resistir, persistir, lutar e andar para frente, e não voltar para trás, é o que é preciso.
Sem lugar para autoritarismos.
Rinaldo Barros é professor – [email protected]