Uma das toxinas que compõem o veneno da cobra cascavel pode ajudar no tratamento contra o câncer. É o que indica um estudo conduzido pelo Instituto Butantan, com a participação de pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade de Ribeirão Preto (Unaerp).
Nesse primeiro momento, a pesquisa, publicada em revista científica, testou a atuação da crotoxina em camundongos portadores de câncer de peritônio.
“A gente fez testes em animais e com células cultivadas. A gente faz essa experimentação, como que a gente imagina o que vai acontecer com o organismo”, explica a professora da Unaerp Priscila Andrade Ranéia Silva, que participou do estudo.
Os resultados mostraram que a substância agiu sobre células de defesa do organismo para induzi-las a combater tumores com mais eficiência. Segundo os cientistas, isso pode indicar um caminho para que os pacientes adquiram uma resposta imune antitumoral suficiente e duradoura.
Inicialmente, os pesquisadores dividiram os camundongos em dois grupos, sendo que um deles recebeu um tumor líquido que se desenvolve na região abdominal.
Em seguida, o grupo de animais doentes foi divididos em três partes:
O grupo de animais saudáveis também foi submetido aos três tratamentos, apenas com o intuito de demonstrar o efeito da toxina em um organismo sem câncer.
Os animais foram acompanhados por 13 dias. Ao final do 13º dia, os pesquisadores constataram que os camundongos doentes que receberam a menor dose da toxina estavam com a prevalência de 60% dos chamados macrófagos M1, célula de defesa adequada para inibir o desenvolvimento de tumores.
A porcentagem foi equivalente à observada nos animais que não tinham tumor, ou seja, o tratamento mostrou-se eficaz na manutenção dessas células de defesa diante do tumor.
Outro ponto apontado no estudo é que os camundongos que receberam a dose menor da substância apresentaram melhores resultados do que aqueles que receberam a dose maior.
Prova disso é que, entre o sexto e último dia do experimento, apenas o grupo portador de câncer que recebeu a menor dose foi capaz de reduzir o volume do tumor, em 27%.
Nesses animais, também foi constatada redução no número total de células tumorais e aumento no número de leucócitos, que também são células de defesa.
Além disso, a menor dose da toxina proporcionou um aumento de 35% na produção de óxido nítrico, um radical livre que leva à destruição de tumores, enquanto a maior dose não apresentou mudanças nesse parâmetro.
“Isso é uma das coisas que a gente vem observando também em outros radares, mostrando que uma pequena dose da crotoxina é o suficiente para essa modulação dos macrófagos”, destaca a pesquisadora.
Segundo Priscila, a partir de agora, o estudo buscará avaliar eventuais efeitos colaterais da toxina, antes de planejar os testes em humanos.
“A gente precisa avaliar mais com relação à toxicidade dessa toxina, avaliar melhor os efeitos em outros modelos experimentais. Antes de ir para um experimento em humanos, a gente precisa validar isso em outras espécies.”
Ainda que ressalte a importância da realização das próximas etapas, a professora considera que os primeiros resultados são promissores.
“De fato, tanto o efeito anti-inflamatório quanto efeito modulador da crotoxina, para os estudos iniciais, estão bem estabelecidos”, conclui.
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