TETOS E PISOS – 

 Em uma viagem à Paris vejo meu esposo com a câmera voltada para cima. Primeiro observei o teto da igreja que ele fotografava repetidas vezes. Era lindo! Depois, olhei para ele com interesse. Ele fazia a foto e observava o visor para ter certeza que havia captado a imagem com perfeição. Não satisfeito, repetia estes passos incansavelmente. Neto de fotógrafo, eu o via mudar o ângulo, a própria postura, aguardava grupos de turistas se afastarem para conseguir a imagem perfeita.

Na verdade, ele conseguiu. Hoje esta foto em específico, a foto perfeita, é a tela de seu celular. Sempre que a vejo estas lembranças voltam à tona. E sorrio sozinha…

Temos formas diferentes de fotografar. Ele com câmera profissional, eu com o celular. Gosto de fotos nossas, mas não tenho paciência para poses. Prefiro pegar de surpresa! Por isso, ao me pedirem fotos para alguma postagem no trabalho percebo o caos que se instala. Nenhuma foto é boa suficiente para expor nas páginas do Instagram. Estou fazendo careta, cabeça torta, rosto de lado. Resgato uma foto de 3 ou 4 anos atrás – sempre a mesma – e ofereço dizendo que é o melhor que posso fazer.

Flávio em nossas viagens fotografa os monumentos, as paisagens e, ao chegarmos em casa, precisamos unir os dois álbuns para ter a visão perfeita e devidamente guardada dos momentos que vivemos.

Ele fotografa os tetos! Suas pinturas, seus relevos. Eu, ao longo dos anos criei o hábito de fotografar os pisos, as calçadas, as marcas que identificam cada local. Descubro poemas, calçadas típicas do local e sigo com o celular buscando o chão.

Ele, centrado e equilibrado, sempre com os pés no chão, mirando o céu. Eu, sonhadora e emotiva, com a cabeça nas nuvens, miro o chão, as raízes.

Que engraçado perceber isso…

O chão e o céu nos completando…

 

 

 

 

Bárbara Seabra – Cirurgiã-dentista, professora universitária e escritora

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