TIRO O CHAPÉU –
É de tirar o chapéu! Expressão idiomática tipicamente brasileira que significa tirar o chapéu em respeito ou homenagem a algum ato, procedimento ou fato extraordinário digno de admiração – e quão poucos são os feitos merecedores desse preito, hoje, no Brasil.
Pois bem, existe uma classe trabalhadora atuando mundo afora, num esforço conjunto e desgastante, batalhando para atender, orientar e cuidar de pessoas com suspeitas ou acometidas pelo Covid-19.
Trata-se dos profissionais de saúde para quem eu tiro o chapéu, esperando o mesmo procedimento do público que deles necessita, e em respeito ao serviço comunitário que eles dispensam com abnegação e zelo pelo próximo.
Nunca vi tantos precisarem da assistência continuada de uma mesma categoria profissional. Tampouco, vi tanto empenho, preocupação e dedicação de uma mesma classe de trabalhadores atuando pela sanidade comum. Daí o meu louvor a todos os médicos, enfermeiros e demais agentes de saúde envolvidos com a pandemia provocada pelo coronavírus.
Poucos atentam para o detalhe de que o principal grupo de risco de contaminação pelo Covid-19 é o constituído pelos agentes de saúde. A eles competem as tarefas mais pesadas, as condições de trabalho mais difíceis, as maiores pressões psicológicas e os maiores perigos de infecções.
Na China, no auge da pandemia do Covid-19, a contabilização de mortes incluiu mais de 1.700 agentes de saúde. A exaustão e a falta de recursos médicos nos hospitais levaram a esse desastre sanitário inimaginável e inesperado.
A ficha do brasileiro ainda não caiu quanto a possibilidade de o pico da pandemia, entre nós, ser bem mais devastador do que o ocorrido na China. Basta ver exemplos de descaso quando da frequência às praias, nas manifestações públicas e aglomerações de todo tipo sem qualquer prevenção contra a moléstia da moda.
Mariângela Simão, 64 anos, pediatra e sanitarista graduada pela UFRN, diretora assistente da OMS (Organização Mundial da Saúde) em entrevista à imprensa nacional, afirmou: É irreal pensar que a crise vai acabar logo… Eu tenho visto no Brasil as pessoas minimizarem os riscos… Existe um pouco de descaso no sentido de que somente as pessoas acima de 65 anos serão afetadas…
Portanto, é hora de perguntarmos se possuímos profissionais de saúde suficientes para o enfrentamento da pandemia; se a equipe em atividade está devidamente capacitada para a missão árdua que terá pela frente; se essas pessoas estão cientes dos riscos que correm e se estão dispostas a tal sacrifício.
Esse desafio se assemelha a um sacerdócio, onde o amor ao ofício supera qualquer obstáculo, e onde a falha humana representa a ameaça de perda da própria vida. Nunca o juramento de Hipócrates, no tocante à profissão, à integridade da vida, à assistência ao doente e ao desapego pelo bem-estar pessoal, será tão testado – e igualmente cobrado -, dos profissionais envolvidos nessa empreitada.
Pelos exemplos até então observados, ainda não será nesta difícil batalha que se avizinha contra o Covid-19, que veremos quebras de compromissos assumidos com pacientes, perante a sociedade, pelos abnegados servidores da saúde.
Por isso, o ato de tirar o meu chapéu não representa apenas um reconhecimento; agrega também o agradecimento ao corpo médico brasileiro, pela ajuda à nação nesse choque de forças ante um rival invisível e mortal.
José Narcelio Marques Sousa – Engenheiro e Escritor