TOMA LÁ, DÁ CÁ: TRUMP E KIM –
Ontem (12) em Singapura, olhares globais e sorrisos, no encontro entre o Presidente Trump, dos Estados Unidos e Kim Jong-um, da Coreia do Norte.
Será que o aperto de mão prolongado colocou o passado “para trás”, como deseja Kim? Afinal, um relatório de 2014 das Nações Unidas relata vários “crimes contra a humanidade” praticados pelo regime da Coreia do Norte.
Trump, com a usual parolagem, estilo controverso e vazio, omitiu-se na abordagem das violações a direitos humanos, cujo exemplo recente é o episódio de Lee Young-guk, coreano, ex-guarda costa de Kim, que após ter caído em desgraça foi enviado a um campo de trabalhos forçados, onde teve de comer “ratos, cobras” e até “excrementos de animais”.
Com a derrota do Japão na II Guerra, os Estados Unidos e União Soviética assumiram a administração do território coreano e o dividiram entre si, dando origem aos dois atuais estados do norte e do sul. A Coreia do Norte nasceu sob a influência da China, na década de 50.
O acordo assinado em Singapura tem conteúdo vago, deixando margem a incertezas e ambiguidades. Esse já é o terceiro (antes em 1993 e 2007), em que se afirma o propósito da Coreia do Norte “trabalhar rumo à total desnuclearização da Península Coreana”. Obama apostou na “paciência estratégica”, aguardando que o regime dos Kim cedesse por força das sanções impostas. Nada aconteceu.
Tudo indica que o “vai e vem” irá prolongar-se por muito tempo. Por trás dessas “desavenças”, além da alegada “desnuclearização” escondem-se inúmeros interesses econômicos, militares e estratégicos, dos Estados Unidos, China e Rússia.
A verdade incontestável é a aliança incondicional do líder norte-coreano, Kim Jong-com a China, além de convivência próxima com a Rússia. Antes de Trump encontrou-se, em início de maio, com o presidente da China, Xi Jinping, quando recebeu a orientação de como deveria comportar-se em Singapura. À época o comunicado entre os dois relatou “cumprimentos calorosos” e ter sido o encontro uma “troca de pontos de vista abrangente e profunda”.
A Coréia do Norte é o chamado “estado tampão” localizado no ponto mais vulnerável da fronteira, cuja existência impede que a China tenha fronteira com a Coreia do Sul (limites do rio Yalu), um país capitalista e aliado dos Estados Unidos, onde se acham instalados 28 mil soldados americanos. Torna-se evidente que a China tem total interesse que a Coreia do Norte continue sendo exatamente o que ela é.
Outro fator geopolítico reforça esse ponto de vista. A Coréia do Norte, com suas obsessões nucleares, aumenta a dependência dos Estados Unidos em relação à China. Isso porque, somente a China sabe lidar com o pavor provocado pelo arsenal nuclear de Kim Jong-um. Essa amizade próxima justificou que a China continuasse a comprar o carvão norte coreano, mesmo com o “boicote” da ONU. As trocas comerciais globais entre os dois países registraram um aumento de 10,5% nos primeiros cinco meses do ano de 2018, alcançando a cifra de US$ 2,55 bilhões.
O ditador Kim Jong-un segue as mesmas pisadas do chinês Deng Xiaoping e deseja tornar-se um reformista econômico. Com a ajuda dos chineses e russos busca implantar gigante econômico semelhante à China, em seu país.
Ao final da encenação em Singapura percebeu-se a aparência de muita paz e amor, mas nada de concreto. O único benefício parece ter sido o proveito próprio de cada um dos dois personagens, que esperam colher louros propagandísticos, em níveis interno e global.
Em resumo: os Estados Unidos, com essa política externa egoísta de Trump, continuarão de olho “no próprio umbigo”, invocando o nacionalismo e em conflito aberto com o Canadá, França, Alemanha, Irã, Rússia e nações signatárias do Acordo do Clima. Caberá aos demais atores globais garantirem a continuidade da globalização, sem a presença do país que um dia foi seu maior defensor.
Enquanto isso, Rússia e a China estão mesmo interessadas é na solidariedade e parceria com a Coreia do Norte, para evitar alianças econômicas norte-americanas no Nordeste Asiático.
Trump e Kim, com esse “vai e vem”, somente estimulam a política do “toma lá, da cá”.
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