O acidente entre um caminhão e um ônibus que deixou 42 mortos em Taguaí (SP) vai ser recriado nesta segunda-feira (30) pela perícia, que vai usar um equipamento de tecnologia 3D. A mesma técnica foi utilizada durante a reconstituição da ação da PM que deixou nove mortos em Paraisópolis.
Ao Portal G1, a perita Karin Kawakami De Vicente explicou que a equipe vai ao local do acidente com um equipamento laser escâner 3D, que vai digitalizar a área.
“Ele funciona emitindo feixes de laser de classe 1 milhão de vezes por minuto, e vai formando o que chamamos de nuvem de pontos, 360° na horizontal e também tem 3 câmeras que fotografam em HDR, para colorir a nuvem de pontos e formar as imagens 360° do local escaneado”, explica.
“São vários pontos ao longo da rodovia que vamos escanear. Depois temos o modelo tridimensional do local imortalizado, permitindo medições, animações, simulações, tudo em escritório. Está previsto o escaneamento dos veículos também.”
De acordo com Karin, depois de feitas as imagens e montada a animação da movimentação, é possível colocar câmeras e gravar a visão de testemunhas e do motorista, por exemplo.
Resumo
- Um ônibus e um caminhão colidiram em Taguaí (SP)
- Acidente aconteceu por volta das 7h de quarta-feira (25)
- O ônibus levava cerca de 50 trabalhadores de uma empresa têxtil
- A colisão ocorreu no km 172 da Rodovia Alfredo de Oliveira Carvalho
- A empresa de ônibus Star Viagem e Turismo não tinha autorização para operar, segundo informações da Agência de Transporte do Estado de São Paulo (Artesp)
Após o acidente, o caminhão do tipo bitrem (com capacidade maior de carga), que carregava esterco, invadiu uma propriedade rural. O motorista do veículo chegou a ser levado ao pronto-socorro de Fartura, mas morreu na unidade.
A companheira do caminhoneiro informou que ele não tinha habilitação para dirigir caminhão, tinha apenas habilitação provisória para carro e, por isso, levava outro caminhoneiro junto nas viagens.
“Com a colisão, uma parte da carroceria do caminhão se desprendeu, foi para o lado do ônibus. Ela ocasionou um grave dano na lateral do ônibus e infelizmente levando a óbito tantas pessoas. Foram arrancados bancos, vítimas com membros decepados, vítimas machucadas”, afirmou Daniel Aparecido Demétrio, capitão da Polícia Militar.
“Algumas vítimas foram projetadas para fora do ônibus, algumas estavam no interior do veículo e outras ficaram presas às ferragens e nos bancos do ônibus também, o que dificultou a retirada. Mas tivemos cautela para que não houvesse maiores danos nos corpos”, disse o tenente do Corpo de Bombeiros, Carlos Alexandre Prandini.
A maioria das 42 vítimas foi velada em ginásios de Itaí. As prefeituras de Taguaí e Itaí decretaram luto oficial por três dias.
A Rodovia Alfredo de Oliveira Carvalho é pista simples, não tem pedágios e não são comuns acidentes parecidos no local, segundo a Polícia Militar Rodoviária de Itapeva.
De acordo com o tenente Alexandre Guedes, porta-voz da PM, foi o maior acidente do ano nas rodovias do estado de São Paulo.
Investigação
O MPT entrou com uma representação contra a empresa Stattus Jeans Indústria e Comércio Ltda, onde as vítimas de Itaí trabalhavam, e a Star Fretamento e Locação Eireli – EPP, dona do ônibus envolvido no acidente.
As vítimas eram de Itaí e viajavam diariamente com a empresa de ônibus até o trabalho, em Taguaí.
O MPT quer saber sobre a responsabilidade das empresas no acidente. Além desta investigação do MPT, a Polícia Civil instaurou um inquérito para saber a causa da colisão, que ainda não foi esclarecida.
Camila Rosa Alves, delegada titular da Polícia Civil de Taquarituba (SP), é responsável pela investigação. Ela informou que a polícia tem duas linhas de investigação: falha nos freios ou tentativa de ultrapassagem em local proibido.
O motorista do ônibus se apresentou à Polícia Civil na sexta-feira (27) e relatou que invadiu a contramão da via para não atingir o veículo que estava mais lento à frente. Disse que não conseguiu evitar a batida e também sobre falha no freio do ônibus.
Os donos da empresa de ônibus, acompanhados de um advogado, também se apresentaram à Polícia Civil de Taguaí.
O advogado Adail Oliveira contou que a confecção contratou o serviço de transporte; uma das funcionárias da empresa confirmou que o transporte dos funcionários era contratado pela empresa. Questionada pela TV TEM, a empresa de jeans nega a versão e diz que o ônibus foi contratado pelos funcionários.
Em nota, a SSP informou que as investigações seguem em andamento pela delegacia de Taguaí. Foi realizada uma nova perícia nos sistemas de freio do ônibus envolvido na sexta-feira (27).
Cinco pessoas, entre elas três motoristas, uma vítima e uma testemunha, foram ouvidas e novos depoimentos serão colhidos nos próximos dias.
Ainda conforme a SSP, os laudos de exames necroscópicos e toxicológicos estão em andamento pela Equipe de Perícia Médico Legal (EPML) de Avaré e, assim que concluídos, serão analisados pela autoridade policial.