TRISTEZA –
Manhã chuvosa na Praia de Cotovelo, ventania forte, uma corrente fria de ar, mar cheio, batendo com força no encontro do talude de pedra, areia e grama, fazendo zoar um forte barulho. As folhas dos coqueiros em um balanço agitado, diferente da suavidade que costumo ver. A linha do horizonte quase encoberta com a forte chuva que caía.
Estava no terraço da minha casa olhando o tempo, sem ideia do que fazer. Vejo se aproximar um senhor de idade avançada, com um saco nas costas revirando os poucos sacos de lixos existentes nas calçadas de poucas casas abertas. Aquela cena me levou a meditar sobre a vida.
Sou da geração anos 60/70, essa geração está indo embora, os amigos morrendo, as dificuldades da vida nos impõe encargos até o dia final, lutamos e lutamos com dificuldades, posso até dizer que somos vencedores, mas a responsabilidades com filhos e netos nos leva a uma reta final cheia de dúvidas.
Para onde vai o Brasil? Não sei você também não sabe. Nunca pensei em chegar a presenciar as cenas de imoralidade e violência, que estamos vendo agora. Uma justiça inoperante, claudicante e às vezes tomando atitudes assustadoras. Um congresso imoral, o roubo tornou-se moeda de troca, você rouba ali que eu roubo acolá. Uma saúde doente, uma segurança insegura. Uma milícia atuante, tentado retomar o poder a qualquer custo, um povo perdido, disperso, difuso. Um Brasil que lança no mercado de trabalho anualmente milhares de jovens saídos das universidades mas não encontram empregos, ficam coitados feitos zumbis a vagar pela misteriosa estrada da vida.
A tristeza bate forte, e o que fazer? Não há mais tempo, as cenas da vida passam, porque não fiz isso, ou não fiz aquilo, não há mais tempo.
Volta ao passado, e nele sou acalentado, era tudo diferente, entrávamos na faculdade sabendo que quando saísse tinha lugar certo no mercado de trabalho, saíamos as ruas tranquilos, tínhamos direito a uma saúde razoável, um bom ensino nas escolas públicas. Assim era o meu Brasil.
Queria sim, um país diferente, governados por pessoas honestas, que a pobreza diminuísse bastante e que todos tivessem acesso fácil a saúde e a educação. Não sei se vou ver, mas rezo para que isto aconteça e que os culpados por esta situação sejam punidos, mas infelizmente penso como Maquiavel.
“Como é perigoso libertar um povo que prefere a escravidão!”
Guga Coelho Leal – Engenheiro e escritor, membro do IHGRN