TROCA SILENCIOSA DE CUMPLICIDADE –
Existem vidas que, em sua aparente imobilidade, carregam universo de mistérios, circulam em silêncio, acompanhando o ritmo do vento ou da luz, desenhando ciclo de existência tão antigo quanto a própria terra. Choram, não lágrimas visíveis, mas gotas de orvalho ou seiva que alimentam o solo ao seu redor.
Se comunicam entre si, em redes subterrâneas que trocam nutrientes, alertas e sabedoria ancestral. Essas essências são árvores, guardiãs do planeta, que, firmes em seus lugares, estão em constante movimento interno
Defronte à minha casa em Barra de São Miguel, existe um pomar, onde algumas árvores se erguem, imponentes e tranquilas, como guardiãs de um enigma antigo, sem nunca estarem sozinhas, pois entre elas, sussurram segredos no balé das folhas, onde através de poemas verdes, contam histórias, em uma língua que não usa voz.
Enquanto suas copas entrelaçadas parecem gerar uma troca silenciosa de cumplicidade, costumeiramente em meus momentos de meditação, fico a espiá-las e claramente noto que quando o vento sopra, é como se dialogassem sobre o tempo, dias que passaram e os que ainda virão.
Elas se apoiam mutuamente, dividindo o peso das tempestades e compartilhando a luz do sol. É como se compreendessem que juntas, são mais completas, fortes e belas. Observar essa harmonia natural desperta uma reflexão: por que nós os seres pensantes não somos assim o tempo todo?
Maravilhoso se nesse novo ano que ora inicia, a humanidade aprendesse ao menos um pouquinho, com as árvores do mundo. Que bom seria se nos uníssemos em torno do apoio mútuo, da conversa sincera e do propósito de crescer juntos, em harmonia. Assim como elas, poderíamos enfrentar dificuldades e celebrar alegrias, sabendo que o verdadeiro sentido da vida está em estar lá, um para o outro.
Para mim, essas árvores sobre as quais escrevo, são testemunho marcante de que a união é mais que força: é um presente. E que a paz que elas exalam ao se abraçarem com suas sombras possa inspirar não somente a mim, mas cada um de nós, hoje e sempre.
Alberto Rostand Lanverly – Presidente da Academia Alagoana de Letras