“TUDO FLUI E NADA PERMANECE”, HERÁCLITO –
Estamos imersos no que parece ser o maior desafio para a humanidade após a Segunda Guerra Mundial, a sensação que tenho é que fomos arremessados com tacos de basebol para a maior crise contemporânea da atualidade, a cabeça ainda gira, dói, lateja dentro de um confinamento sem prazo para acabar.
Fomos impelidos a virar nossas vidas de cabeça para baixo, proibidos de beijar, abraçar, apertar as mãos. Como se não bastasse, nos impuseram medo, nos privaram do direito de ir e vir e ainda nos roubaram vidas. Estamos de pernas para o ar, sem chão. Acuados pelo COVID-19.
Entre os lapsos de latejos e incompreensões, arquejando a incerteza dos tempos futuros, entre as abstrações de onde estaremos daqui a algum tempo, me valho da esperança de que tudo passa, e por mais que estejamos vivendo a eternidade dos dias reclusos, tudo é efêmero, as coisas são passageiras e somente as lembranças são eternas enquanto vivermos.
Quero pensar que Amanhã será último dia de verão, de um ano atípico, que o calor trará 40° de solidariedade, nuvens carregadas de esperança, raios de otimismo e um horizonte repleto de luz para nossas cidades. Quero pensar que tudo vai passar, tem de passar.
Ponderando uma citação de Jean-Paul Sartre, que diz: “Não importa o que fizeram com você, o que importa é o que você faz com aquilo que fizeram com você”, penso nas diversas habilidades que nos tornam pessoas mais adaptáveis as variadas situações, penso sobre a necessidade de sentirmos medo como base do controle do EU, ponderando ações, impondo limites entre o excesso e a falta, para que o excesso de medo não nos paralise e a falta dele não nos mate. Há quem diga que a prudência tem caminho longo, prefiro apostar nela.
O conhecimento de si, respeitar os tempos e as fases, compreender que cada época tem seu valor, perceber que a vida é importante pelos valores que construímos ao longo dessa jornada, me faz esbarrar, em cada pedaço de chão percorrido até aqui, nas interrogações mais pertinentes de agora: “quais meus valores, o que realmente importa?” Somente mergulhando na fonte do amor para nos banhar com as respostas.
Tempo de crise é sempre o momento em que paramos a frenética da vida para repensar valores, ideais e sonhos. Nesse instante em que vivemos uma guerra com um inimigo invisível, com consequências avassaladoras para a humanidade, onde os medos são eminentes, pontuo que um dos maiores deles, para mim, é o medo da alma adoecer e com isso nos roube os sonhos e a esperança. No entanto, enquanto houver medo “sadio” novas relações de trabalho, de mercado, pessoais; o poder do estado, a família, a sociedade hão de se reinventarem, ressurgindo como a Fênix.
Que possamos nos tornar seres melhores, depois de tudo passar, senão, de nada terá adiantado amargar tantas dores, afinal: “No mesmo rio entramos e não entramos, pois somos os mesmos e não o somos”, ensinou-nos Heráclito.
Enquanto isso, por amor, NÃO SAIAM DE CASA!
Flávia Arruda – Pedagoga e escritora, autora do livro As esquinas da minha existência, [email protected]