TUDO VAI DAR CERTO –
Adepto da esperança, crente na amizade
Já faz tempo, acostumei a tratar convivas que por variados motivos, vivenciam fases críticas em seu viver, simplesmente lhes afirmando que “tudo vai dar certo”, buscando em meu pensar, não somente incentivá-los, como também amenizar a árdua carga de pedidos endereçados pela grande maioria tanto a Deus, Jesus, sua mãe Maria e outros tantos santos.
Tempos atrás, em viagem mundo afora, chegando em Rodes na Grécia, onde em época anciã, pontificou a imponente estatua de Hélios, o titã-deus do sol, obtive inesquecível informação, cujo teor fortalece plenamente o pensamento explicitado anteriormente.
Certa vez, Pandora filha de Hefesto e Palas Ateneia, deles recebeu uma caixa com recomendação de não a devassar, porém em momento de fraqueza, rendeu-se à curiosidade feminina, fato que tornou impossível cumprir o compromisso, e ao abri-la viu dela saírem todos os males: doença, ódio, inveja, falsidade, intriga, guerra. Extremamente assustada, logo fechou o baú, conseguindo manter no reservatório apenas a esperança.
Meditando sobre tal acontecimento, passei a aceitar, representar a esperança, em momentos de adversidade, o único elemento restante ao ser humano.
Desde então, sabedor de dificuldades atormentando pessoas estimadas, busco incentivá-las com tais palavras altruístas, por entender tratarem-se as mesmas, do animo necessário a nortear esforços para atingir o desejado; confiança em coisa boa, expectativa, aguardo por vida melhor, concretização de sonhos.
Porém nesse mundo louco em parte dominado pelas malicias, que em instante de bisbilhotice, conseguiram escapar da caixa mitológica, restam ainda aos seres humanos, outras relações afetivas, não somente envolvendo semelhantes, mas também com determinadas entidades.
A primeira representando afeição, simpatia, apreço, a segunda gerada através de amizades literárias, como por exemplo, envolvendo as letras, que bem suprem carências geradas pela falta do relacionamento social, tornando fraternas ligações existentes tanto entre intelectuais ou mesmo pessoas diversas, que se comunicam, até de forma epistolar.
Certa vez, em o Pequeno Príncipe, Exupéry enfocando o tema amizade, escreveu que “em um mundo que se faz deserto, todos possuem sede de amigos e por essa razão, considerando que os homens compram o desejado em lojas… Mas como não há vendas de amigos, os seres racionais, praticamente não os possui em carne e osso.”
Amenizando tal dificuldade desnudada pelo valioso francês, surgem os livros, cada vez mais ocupando o espaço dos racionais, sendo inclusive por muitos considerados não somente objetos, porém, o querido dos companheiros, gerando relação quase amorosa por seus enredos, que muitas vezes conseguem ultrapassar territórios da imaginação.
Apesar de tudo, sem nunca esquecer a indiscrição de Pandora, e sentindo-me bem ao pronunciar a frase “tudo vai dar certo”, entendo que pensar, sentir e agir são imprescindíveis para viver de forma entusiasmada, pois como a passividade nulifica, é preciso nutri-la a cada momento, afinal de contas, a esperança é alimento da alma.
Alberto Rostand Lanverly – Presidente da Academia Alagoana de Letras