TUPI –
Tupi foi o mais inteligente e o mais dócil dos cães vira-latas, que eu conheci. Amigo das pessoas da casa, principalmente do dono e das crianças, fazia as vezes de vigilante e de um verdadeiro cão-de-guarda.
Brincava com as crianças e disputava com elas todos os brinquedos. Era um companheiro incansável.
Dava gosto vê-lo jogar-se à piscina e resgatar os brinquedos que os filhos do seu dono lhe atiravam, por mais distantes que caíssem. Repetia essa “obrigação” até que os meninos se cansassem. Tirava da água cada brinquedo com a boca, e o exibia, como se fora um troféu. As crianças vibravam, com a rapidez com que o cão resgatava os brinquedos por elas atirados à água.
Essa brincadeira recomeçava inúmeras vezes, sem cansar a paciência de Tupi. Depois, eram corridas, lanches, gargalhadas, saltos, até que o assobio de um empregado da fazenda chamava o fiel animal às suas obrigações. Corria, então, como um raio, para tanger as vacas, que eram levadas aos pastos, impedindo-as de entrar nas terras do vizinho.
Quando Pedro, o carroceiro, ia levar batatas para vender no mercado, Tupi o acompanhava, como se fosse o capataz da fazenda.
Triste de quem ousasse saltar o muro para roubar. Uma vez, o cão deu prova de sua extraordinária sagacidade. Um desocupado pulou o muro, à noite, e tentou furtar uma saca de batatas, de 60k. Tupi, como um bom vigilante, esperou que ele procurasse o caminho da saída, levando a saca na cabeça, e o agarrou pela camisa, fazendo-o largar o objeto furtado.
Era como se dissesse: “Onde você pensa que vai, levando as batatas do meu dono?”
O homem quis pôr o saco no local de onde o tinha tirado, mas Tupi não deixou, mantendo-o seguro pela camisa, até amanhecer o dia, sem o ferir ou morder.
O dono da fazenda, logo cedo, levantou-se e encontrou Tupi nessa difícil posição. Repreendeu o malfeitor, que tremia de medo, e ameaçou de mandar prendê-lo, caso repetisse a má ação.
O ladrão, porém, passou a odiar o cachorro, e jurou para si mesmo que sua vingança contra aquele animal seria “maligna”.
“Ladrão hoje, ladrão sempre”- diz a sabedoria popular.
Alguns dias depois, o ladrão voltou a pular o muro da fazenda. Percebendo a ausência do fazendeiro e das crianças, chamou Tupi, que correu para ele sem desconfiança. Sem qualquer testemunha, o bandido enlaçou o pescoço do cachorro com uma corda e o arrastou até à margem do rio, num local sinalizado como perigoso.
Atou à outra ponta da corda uma grande pedra, e, levantando o animal, jogou-o às águas do rio. Com o esforço feito ao segurar Tupi e a pedra, o malfeitor se desequilibrou e também caiu no rio, no mesmo local onde acabara de jogar o indefeso animal.
Como não sabia nadar, o covarde, apavorado, viu-se perdido. E teria morrido afogado, se não fosse o corajoso Tupi. Obedecendo ao seu instinto de salvador, e desembaraçando-se da pedra mal atada, o fiel cão de guarda, mergulhou duas vezes, trazendo para terra o seu mortal inimigo.
O cachorro conseguiu sair da água nadando. Olhou para o rio e viu seu algoz se debatendo, sem conseguir tomar pé. Decidido, Tupi pulou no rio e conseguiu salvar seu pretenso assassino.
Desnorteado, o homem se deu conta de que o cachorro que ele tentou matar afogado, fora salvo pelas mãos de Deus. E foi esse cachorro que pulou nas águas para salvá-lo.
O remorso subiu-lhe à cabeça.
O bandido envergonhou-se do ato miserável que praticara e, desde esse dia, se regenerou, deixando de praticar ações violentas, contra pessoas ou animais.