TURISMO NÃO ADMITE DESCASO –
Além do mar, o que há de comum entre Copacabana, Ipanema, balneário de Camboriú e a orla marítima de Fortaleza? Vamos expandir e incluir nesta pergunta as cidades de Mônaco, Miami Beach, Nice, Palm Beach e Fort Lauderdale (na Flórida), Bahamas e Mar del Plata (esta na Argentina). São praias urbanas, todas com grandes edificações. Outra pergunta: por que Natal quer ser uma cidade turística, mas teima em limitar o gabarito das edificações em nossas praias?
Não venham tangenciar a questão aqui levantada taxando-me de pária, pois sou mossoroense, com muita satisfação; descendente de famílias tradicionais daquele brioso rincão do oeste potiguar. Mossoroense, mas também natalense.
Natalense porque aqui vivi a minha infância. Morei na Rua Jundiai, quando por lá passavam os bondes e havia três grandes amendoeiras, quase esquina com a Avenida Afonso Pena. Na Juventude, frequentei o Grande Ponto – o ponto onde tudo acontecia e onde tudo era comentado –, a Confeitaria Cirne, ali na Rua João Pessoa, onde, com frequência, encontrava-me com Newton Navarro, Dorian Gray Caldas e Verissimo de Melo, para grandes papos. Trabalhei no Diário de Natal durante cerca de dez anos. Estou morando aqui há quase vinte anos e tenho pendurado em minha biblioteca um diploma da Câmara Municipal de Natal, que certifica que sou cidadão natalense, do que muito me orgulho. Posso, então, dizer que tenho dupla cidadania. Sou cidadão de Mossoró e de Natal, sem nenhuma dificuldade de compartilhamento de afeição.
Resolvido, por antecipação, esse possível e falso contra-argumento, vamos ao que interessa. Em Natal o desenvolvimento do turismo vive tropeçando em coisas bizarras, em trágica continuidade. Exemplos há muitos. O nosso principal teatro, o Alberto Maranhão, uma bela construção em Art Nouveau, é tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Rio Grande do Norte. Sofreu reformas em 1988 e em 2004, mas está fechado. Esperando a conclusão dos serviços. O Forte dos Reis Magos, o nosso monumento histórico mais importante, está fechado desde 2018, também para reformas. A previsão era que fosse reaberto no ano seguinte, mas os serviços não foram concluídos e… também está fechado.
Enquanto isso, sobram atrações de gosto duvidoso. Até há pouco tempo, o Beco da Lama – tido como ponto de encontro de intelectuais, artistas e profissionais liberais da cidade – era merecedor do seu nome. Graças à atuação da Sociedade dos Amigos e Amigas do Beco da Lama e Adjacências-SAMBA e da Prefeitura, sofreu mutações positivas, com painéis de grafite, que lhe deram outra feição, e vem recebendo festivais literários e gastronômicos.
Mas o nosso grande nó górdio, o nosso grande enrosco, está nas praias urbanas. Ponto Negra, a nossa rainhazinha do mar, com suas ondas mornas, coroada pelo Morro do Careca, tem dois problemas conhecidos e insolvíveis até agora: precisa urgentemente (e faz tempo) de obras de enrocamento e de engorda da faixa de areia. Até o acesso à praia é precário, e estacionamento para automóvel é uma dor de cabeça que não acaba nunca. Todo mundo sabe, todo mundo diz que vai resolver esses problemas e… nada de nadica. Tudo permanece como dantes no quartel de Abrantes. A praia dos Artistas, a Praia do Meio e a Praia do Forte estão cheias de atrações duvidosas. Restaurantes, bares e botecos se alternam harmoniosamente. Acresce-se a isso a falta de segurança, do Morro do Careca até o Forte dos Reis Magos. Bom, mas isso não é novidade em toda a cidade de Natal e no nosso RN.
Nestes últimos dias veio o alerta de que o turismo no Rio Grande do Norte está precisando ser reexaminado com lentes de aumento. O Aeroporto Aluízio Alves, o principal porto de desembarque de turistas no Estado, perdeu 253 mil passageiros em cinco anos. É um sintoma de doença grave.
Com tudo isso de real, o governo do Estado desperdiça tempo e esforços com causas estapafúrdias, tal como a revitalização do Hotel dos Reis Magos. Até quando? O turista quer desfrutar de coisas boas, bonitas e de bom gosto. Se não as encontrar em um lugar, vai para outro melhor.
Tribuna do Norte. Natal, 29 jan. 2020
Tomislav R. Femenick – Mestre em economia com extensão em sociologia. Do Instituto Histórico e Geográfico do RN
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