UM ANO NA MINHA HISTÓRIA –

Lembranças e memórias é sempre bom ativá-las. O mundo presente nos obriga a essas fugas para um tempo onde, de hoje, nos vemos felizes. É claro que eu não vivi nem presenciei os fatos ocorridos no ano em que eu nasci. Mas quero fazer este carinhoso registro histórico de algumas amenidades que tornaram a vida mais suportável em 1947.

Tinha início um dos grandes atrativos para as mocinhas e as senhoras. As fotonovelas, assim como as novelas do rádio embalaram o romantismo das mulheres brasileiras, tanto ou mais do que as telenovelas fazem hoje. A revista Grande Hotel, a primeira do gênero no Brasil, inicialmente exibia não histórias em fotos propriamente ditas, mas primorosos desenhos realistas com imagens idealizadas de românticos heróis e apaixonadas mocinhas. Depois, vieram a Capricho, Você – esta, em capítulos semanais – Contigo, Sétimo Céu e outras. Os famosos gibis, com seus caubóis e aventureiros, são história à parte.

 Em 1947 foram lançados os filmes Fogo na Canjica, o primeiro que eu veria sete ou oito anos depois, e um dos mais populares de todos os tempos, Este Mundo é um Pandeiro, com Oscarito. Para os fãs, um deleite: Linda Batista é eleita Rainha do Rádio, pela 11a. vez consecutiva.  O cantor Ivon Cury assina seu primeiro contrato na Rádio Nacional, e o programa A Hora do Pato, de Jorge Curi, na Rádio Nacional, revela a mais bela voz brasileira de todos os tempos: Ângela Maria.

É anunciada a badalada separação do casal Herivelto Martins e Dalva de Oliveira.

Nascia a toada Asa Branca, de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, uma das mais eloquentes e imortais canções do Brasil, e entre as canções brasileiras mais populares figuravam: Copacabana, Nervos de Aço, Asa Branca, Marina, Cinco Letras que Choram, Na Baixa do Sapateiro, Pirata da Perna de Pau, Segredo, Escandalosa, Saudade, Caminhemos, Prelúdios de Sonata, Vida de Caboclo, O Periquito da Madame, Barnabé, Teu Retrato, Infidelidade, Isso é Brasil, Garoto da Rua, Odalisca, Pecado Original, Perdoa, meu Amor, Samba do Realengo, Se Queres Saber, Torna.

A Seleção Brasileira vencia a Copa Rio Branco, derrotando o Uruguai por 3X2 no Estádio São Januário. O Brasil jogou com: Luiz Borracha, Augusto e Haroldo; Rui, Danilo Alvim e Noronha: Tesourinha, Ademir, Heleno de Freitas, Jair da Rosa Pinto e Chico. O técnico era Flávio Costa, o nosso futebol engatinhava e a vingança uruguaia viria três anos depois.

Em 1947, Natal também fervilhava.

A “estrelíssima” Glorinha Oliveira volta a cantar na Rádio Poti, após o complicado parto do seu primeiro filho. Alegria para os fãs. Fase áurea do conjunto vocal Ases da Lua, formado por jovens moradores das Rocas: Vivaldo Medeiros (filho do músico Eduardo Medeiros), João Damásio, Lourival França, Divaldo Ferreira, José Correia de Queiroz (marido de Glorinha Oliveira) e Ruziel Ferreira, o Zuzu.

Brilhava o conjunto Vocalistas Potiguares, formado por talentosos jovens músicos de Natal: Walter Canuto de Souza, Sebastião Botelho Neto (“Ioiô”), João Rodrigues (“Joca”), Manoel Guedes de Araújo (“Neco”), Aldo Canuto e Hermes Cearense. Na sua formação inicial, em 1941, o conjunto contava com o grande violonista potiguar Roldão Augusto Botelho.

O ABC sagrou-se campeão de 1947, após uma série melhor-de-três com o América. O time era este: Brasil, Gageiro e Ernani; Dequinha, Arnaud e Carrapicho; Valeriano, Jorginho, Tidão, Gaspar e Abacaxi. Outros que jogaram: Toré, Campina, Dedito, Portela e Gonzaga. Pernambuco, centroavante do América, foi o artilheiro do campeonato, com 13 gols. Brilhava Jorginho, o mossoroense considerado por muitos o melhor jogador potiguar de todos os tempos. E o ABC revelava Dequinha, futuro jogador do Flamengo e da Seleção Brasileira.

 

 

Alberto da Hora – escritor, cordelista, músico, cantor e regente de corais

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