UM BOLIVIANO BEM BRASILEIRO –

Jorge Pastor Vargas Soliz, seu nome define bem sua trajetória na vida, era realmente um pastor, pastor de almas. Fazer o bem e fazer amigos, foi o seu caminho, o seu destino. Era um cavalheiro, soube caminhar com dignidade, coragem e competência os caminhos da vida, e deixando sempre a sua presença marcada por onde caminhou.

Vargas, como era conhecido, nasceu em Santa Cruz de La Sierra, Bolívia, e resolveu cursar arquitetura, curso que não havia na sua cidade, não sei em seu pais, por isto escolheu a cidade do Recife para fazer os seus estudos. Em um dos períodos de férias, resolveu conhecer Natal, mês janeiro, deu uma esticada até a praia da Redinha para conhecer a festa do Caju, festa tradicional na época, e lá conheceu uma moça caicoense que seria sua futura esposa. Terminado o curso de arquitetura, anos 60, Vargas foi convidado pelo governador Aluízio Alves e o secretário Calazans Fernandes para gerenciar o programa de construções escolares no estado, e ficou no cargo vários anos em vários governos, Monsenhor Walfredo, Tarcísio Maia,  Lavoisier Maia, José Agripino Maia e Geraldo Melo, indo depois prestar seus serviços no Tribunal de Contas do estado.

Vargas trabalhou com uma equipe muito boa, ainda vem na minha lembrança o arquiteto e professor João Maurício de Miranda, engenheiro José Walter de Carvalho, Anjelo (com jota) da Costa Neto, Judson Magalhães, economista Edgard Martins gerente do fundo estadual de educação auxiliares técnicos como José de Figueiredo Milfon, e Edmundo Ayres e outros que não estão vindo a memória no momento. Trabalhou com secretários de educação como Dalton Melo, Jarbas Bezerra, João Faustino, Laercio Segundo de Oliveira Diógenes da Cunha Lima e outros.

Construiu mais de mil e quinhentas salas de aula no estado, entre elas o Instituto Kennedy e o Colégio Edgar Barbosa.

Vargas era bom amigo, cidadão do bem, e muito rigoroso em suas atitudes. Com mais de cinquenta anos no Brasil, não dominava bem a língua portuguesa, eu o chamava carinhosamente de Bargas, e ele por sua vez me chamava de Gugão. Pois bem ele era sorridente e devido a isto, o seu rigor com a coisa pública não o tornava tão carrancudo.

Certa vez eu era o engenheiro recém-formado, ainda sem amizade com Vargas e responsável pela construção de uma escola no bairro de Mãe Luiza, quando chega Vargas para fiscalizar a obra, tirou fotos, andou viu tudo, dirigiu-se a minha pessoa e foi dizendo em um português meio confuso.

– Olha moço, vai ter que derrubar todo chapisco! O prédio todo chapisco.

– Como é doutor? Vou ter que tirar todo chapisco?

– Isto mesmo, e o mais rápido possível!

Peguei as plantas enrolei direitinho, e disse – Doutor Vargas está aqui os projetos o senhor fica com sua construção que eu vou embora. E fui saindo.

– Non, non, non não vai embora, nom é assim também, e reduziu a queixa em 90% e eu aceitei. Deste dia em diante ficamos bons amigos. Fui convidado carinhosamente por ele para fazer parte da sua equipe, não pude aceitar o convite porque optei pelo Departamento de Estradas de Rodagem.

Lamento profundamente a ida de Vargas, mas quem sabe talvez haja novos encontros e ele possa me chamar de Gugão e eu de Bargas.

 Até o dia de Juízo irmão!

 

 

 

 

 

Guga Coelho Leal – Engenheiro e escritor, membro do IHGRN

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