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                        Na recente divulgação, pelo IBGE, da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, muito se falou a respeito do analfabetismo no tocante às informações relativas à educação. É uma chaga crônica no tecido social brasileiro que vem desde a chegada ao Brasil dos primeiros portugueses. Enquanto nos Estados Unidos, no período colonial, mesmo sob a vigência da escravidão, o índice de analfabetismo era praticamente zero, por aqui o “zelo” dos colonizadores com a alfabetização dos nativos – fossem eles índios, negros, escravos – nos fez perder um precioso tempo rumo a um desenvolvimento mais consistente, nos fazendo disputar, ainda hoje, as piores colocações no ranking mundial da alfabetização. Na América, onde a colonização se fez sob a fé evangélica, a alfabetização pegou carona nos intensos movimentos de evangelização, à Bíblia como carro chefe, e alcançou a todos – indistintamente.

                        Mas, deixemos de lado as nossas diferenças, em relação a outros países, e voltemos à PNAD. E, nela, toma vulto um dado pouco observado pelos analistas, e pela grande imprensa, que é a meta estabelecida, na década passada, pelo governo federal, para erradicação do analfabetismo. A meta – pomposamente anunciada à época no contexto do Plano Nacional de Educação – fincava as “bases redentoras” no ano de 2010. Ou seja: segundo o governo, até 2010 o analfabetismo seria reduzido a zero no Brasil. Agora, junto com a PNAD, o mesmo governo estabelece o ano de 2020 como novo patamar para alcance do objetivo de tirar o Brasil da incômodo situação de país com altíssimo percentual de analfabetos. Como se observa, o intervalo de 2010 para 2020 se constitui num salto de dez anos. Dez anos! Uma década! Uma vida, portanto, para que a máquina do governo se volte de vez ao cumprimento do nobre objetivo.

                        Ora, em um país cujo mover da estrutura oficial só ocorre sob intensa pressão (haja vista as iniciativas do governo após os protestos do ano passado – e que, apesar do barulho, geraram, pelo menos até hoje, pouco resultado), vê-se, já a partir de agora, que tal objetivo também não será alcançado! E veremos o Brasil atravessar mais uma década carregando um fardo pesadíssimo – tanto do ponto de vista econômico (o analfabeto pouco produz em razão da falta de conhecimento), como do ponto de vista social. E pior: com números estarrecedores; vergonhosamente estarrecedores: No Brasil, nada menos que treze milhões de pessoas são analfabetas. Adicionando-se a estas aquelas tidas como “analfabetas funcionais” o número ascende a assustadora soma de mais de 30 milhões. A questão não é a constatação de tal cenário. A questão é o governo chutar para mais dez anos a solução do problema.

                        É sabido que na vida de uma nação dez anos são um tempo até razoável; porém, na vida de pessoas comuns é um prazo longo demais. Basta qualquer um, no plano individual, estabelecer para si um prazo de uma década para alcance de um objetivo. Haja ansiedade e sofrimento! Mesmo que esse tempo de espera venha encontrá-la numa boa posição econômica e social. Para os remediados, a passagem do tempo não é algo tão doloroso. Mas, para aqueles que têm diante de si, sem esperança, sem perspectiva, um monótono passar de dias… Chutar ao bel prazer de circunstâncias discutíveis o tempo de alfabetização de um exército de mais de treze milhões de brasileiros para mais dez anos é algo realmente criminoso. É condená-las, por antecipação, a um destino sem brilho, sem cor, sem sabor. A uma vida, enfim, sem objetivo, sem rumo. Ah, se os analfabetos agissem! Imaginem treze milhões nas ruas!  

Públio José – jornalista – (publiojose@gmail.com)

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