UM COMPROMISSO ETERNO –
Gerar filhos e descendência é uma condição natural de todo ser vivo. A Natureza, pela força do seu dinamismo, dotou os seres dessa capacidade orgânica de reprodução e continuidade inerente e até obrigatória. Agrupar, reunir, acasalar, histórica e antropologicamente, caracterizam a espécie humana como o maior exemplo dessa condição.
Antes de realizar o ato social do casamento, o homem solteiro, presa de sonhos e desejos, imagina a sua vida a dois como uma experiência de momentos prazerosos e felizes em que vidas e sentimentos diferentes, individuais, projetam objetivos comuns quando ajuntam-se para formar um só corpo, uma só existência. E, em meio a essa busca por realizações pessoais, incluem a intenção e a perspectiva de gerarem seus filhos, corolário de uma união feliz e produtiva. No passado, a grande prole, o grande número de descendentes, era o certificado de virilidade masculina e capacidade fértil das mulheres, talvez em obediência ao preceito bíblico. O “Crescei e multiplicai” era seguido à risca, enquanto, mormente o pai, se desdobrava para garantir sustento a um crescente e quase incontrolável aumento da família.
Ao atingirem uma idade mais provecta, filhos eram [ainda são] instruídos a procurar seus próprios meios de subsistência, e, só então, começarem a aliviar o peso dos custos na casa paterna. Conheci um homem que desterrava os filhos a partir dos 15 anos de idade; os obrigava a sair, porque o mesmo acontecera com ele e, talvez por isso, considerava a medida mais do que justa, mesmo que as crianças tivessem que procurar outros parentes e até amigos para acolhê-los.
Ao contrário, todos já viram, divulgado nas redes sociais, o caso de um rapaz que pleiteava em juízo a permanência do seu sustento pelos pais, alegando que não nascera de vontade própria e que, por isso, teria que ser mantido indefinidamente pela família que o trouxera ao mundo. Filosoficamente falando, até poderíamos dar razão ao postulante, uma vez que, a rigor, os filhos são “condenados” à vida por um “delito” dos seus pais; são concebidos sem o seu improvável e impossível consentimento. É bom lembrar que, ao encaminhar tal demanda, aquele moço se revela e se reconhece um indivíduo com direitos, é verdade, entretanto, passível das obrigações previstas nos ordenamentos jurídicos e legais que o nivela aos demais cidadãos, tornando, portanto, incabível a sua intenção. Além do que, quem pensa em agir como ele, deveria lembrar que a energia dos pais não é eterna e, por isso, não poderiam mantê-lo para sempre.
Tenho três filhos, dos quais, duas mulheres moram comigo junto aos seus filhos; um filho homem tem sua própria casa e mora distante. Há algum tempo, moramos todos juntos e, descontados os transtornos gerados pela convivência em uma casa cheia de gente, eu prefiro esse aconchego, sob a minha proteção física e moral. Juntos ou distantes, entretanto, o cuidado de pais para com os filhos, mesmo adultos e plenamente capazes, é praticamente o mesmo desde o primeiro choro. Dificilmente pais e mães negligenciam os cuidados para com seus filhos, que diuturnamente são alvo do seu carinho e das suas preocupações. Na primeira infância, alimentação e saúde; na adolescência, estudos e manifestação das primeiras vontades; na juventude, a escolha dos amigos, e a descoberta ou desilusão dos primeiros amores; na idade adulta, a definição dos seus objetivos, o traçado das suas metas para a vida e a plena consciência do seu papel na sociedade. E permanecem entre os pais responsáveis e atentos, aqueles mesmos cuidados, o mesmo carinhoso e aflito zelo paterno. É um amor que não arrefece e não morre. É um compromisso eterno.
Alberto da Hora – escritor, cordelista, músico, cantor e regente de corais