Era um dia de domingo, o 2º domingo do maio, do ano de 1955. Eu era criança e chegou o Dia das Mães.
Em casa, Dona Lia, minha mãe, sentiu as dores do parto e meu pai foi buscar a parteira, Dona Maria Gorda, num troller da Rede Ferroviária.
Ao voltarem, a parteira já encontrou minha mãe em trabalho de parto, e o procedimento foi muito rápido.
Muito ansiosa, fiquei de pescoço duro (torcicolo) de olhar para o céu, pastorando a cegonha, que viria deixar o presente da minha mãe, naquele dia festivo. Sabia que eu iria ganhar um irmão ou irmã.
Desapontada, não vi a cegonha chegar, mas ouvi o choro do bebê, quando nasceu. A euforia dentro de casa foi grande. A parteira saiu do quarto onde estava minha mãe e disse para o meu pai: -“É um menino”.
Ele se emocionou e deixou cair algumas lágrimas. Tinha dado tudo certo, graças a Deus!
Dentro do quarto, uma bacia de água morna com uma colher de álcool garantia a assepsia do bebê e da minha mãe. Nossa casa era vizinha à da minha avó paterna, Dona Júlia.
Com minha mãe já relaxada do esforço do parto, e o bebê já limpinho e arrumado, a porta do quarto se abriu e podemos admirar o presente que minha mãe havia recebido. Um menino lindo, que recebeu o nome de Bernardo, o sexto filho de Lia e Francisco.
Era um presente de Deus para nossa Mãe e nosso Pai. Foi o que as minhas tias Edite e Eulina me disseram, emocionadas.
O bebê nasceu em casa, sob os cuidados de Deus e da eficiente parteira, Dona Maria Gorda, considerada a melhor parteira da cidade.
Naquele tempo, em Nova-Cruz, não se dispunha de médico, nem de hospital ou maternidade. O parto foi normal e a nossa alegria foi imensa, com o presente que nossa mãe recebeu no Dia das Mães.
Ainda me lembro do cheiro de Alfazema, que perfumava o quarto e o berço do bebê.
Minha mãe exultava de alegria, por ter recebido como presente de Deus, naquele Dia das Mães, outro filho homem.
Anos depois, o menino se tornou médico. Deus atendeu aos anseios de Dona Lia, que viu seu ideal realizado.
Muitas vezes, vi minha mãe debruçada sobre o berço, estendendo as suas mãos de veludo e acariciando seu bebê, como uma ave que estende as asas macias sobre o ninho onde repousam seus filhotes implumes.
Cenas enternecedoras aconteceram junto àquele berço!
O amor e o carinho materno transbordavam em minha Mãe, não só com relação ao bebé recém-nascido, como com relação a mim, que perdi o posto de caçula, e aos outros irmãos.
As doces canções de ninar, que as mães cantam para adormecer os filhos, são preces que elas fazem a Deus, rogando para eles um futuro brilhante. O mais importante na vida delas é que os filhos sejam felizes.
É ali, junto ao berço, que se formam sábios, poetas, patriotas, heróis e santos! É ali que começa a educação para as coisas belas da vida, para a virtude, para o heroísmo, e para a bondade no coração.
É verdadeira a premissa que diz:
“A educação vem do Berço!”
A semente de boa qualidade, que a mãe depositar no coração dos filhos, há de germinar, crescer e subir, até ramificar-se numa grande árvore, que dará bons frutos.
Felizes as mães que plantam a semente do bem no terreno virgem do coração dos filhos! A colheita será farta, e grande a felicidade de quem semeou!
Hoje, Dia das Mães, quando minha Mãe já não se encontra entre nós, as lembranças e a saudade afloram à minha memória e tomam conta de mim.
A bênção, Dona Lia, minha querida Mãe!