UM HOMEM SÓ –
Era quase madrugada um pouco mais que cinco horas da manhã. Céu carregado de nuvens escuras, deixava passar entre elas os primeiros raios de sol que sobre o mar projetava um pequeno espelho d’água brilhante, talvez querendo ensinar-me que entre fases escuras da nossa vida também existe em algum momento, uma luz.
Olhei pensativo para o horizonte, a abóbada celeste me fazia ficar mais perto de Deus, com ele os meus primeiros pensamentos do dia. O mar calmo, com seus movimentos a sua música lenta, como um canto gregoriano, um canto monódico, dava um fundo musical para a esfuma das ondas na areia, ao mostra-me que tudo acontece muito rápido e que tudo de repente tem um fim, completava o cenário.
Estava só, com o pensamento na vida, quando surge um homem, magro, alto e me cumprimenta com um tímido bom dia. Pede-me um pouco de atenção. Queria contar a sua historia, queria falar da sua vida, queria falar de um amor que viveu e foi tragado pelo destino, hoje não existe mais. Propus-me a ouvi-lo, partilhar com ele aquele momento.
– Moço eu fui muito feliz em minha vida. Lá pelos anos sessenta, ainda jovem, em São José de Mipibú. na festa da padroeira, conheci uma moça de uma beleza angelical. Era normalista, isto aumentava a sua beleza.
Éramos bem jovens, mas mesmo com as dificuldades econômicas e financeiras do momento, decidimos caminharmos juntos. Casamos e constituímos uma bela família, fomos felizes. Mas o tempo foi se encarregando de modificar as coisas, ela no seu trabalho eu no meu, não tínhamos mais tempo para um bom dia, nem mesmo para um boa noite. Senti o que estava se passando, procurei mudanças, conversar, dá-lhe um pouco mais de atenção, mas não havia mais jeito, era cada um para o seu lado.
Um dia ela partiu, fiquei só na vida, a natureza humana me veio consolar, me faz voltar ao passado e na minha solidão, à noite passou a ser minha companheira, pois os poucos momentos que consigo dormir vem em forma de sonho, todos aqueles momentos que fomos felizes. Quando acordo e acordo cedo, me bate a realidade, a tristeza. Como sonho de adolescente, gostaria que ele nunca tivesse fim. (pausa)
Obrigado amigo, já tomei muito do seu tempo, muito obrigado por ter me escutado, espero que o amigo não passe por isto, tenha um bom dia.
Levantou-se do banco feito de meio fio granítico, ainda molhado pela maresia e o orvalho da madrugada, seguiu em passos curtos pela rua sem pavimento, fazendo com que seu andar não fosse tão firme. Parecia frágil, assim como seu destino. Fiquei olhando em silêncio o caminhar daquele homem. Voltando a vista para o mar, mirando novamente a linha do horizonte, lembrei-me de uma frase que diz “Por mais forte, duro e independente que possa ser sempre haverá um momento em que precisarás de ajuda.” Olhei de novo para o homem só, mas ele tinha desaparecido. Senti naquele momento que a solidão daquele homem, poderá ser em um dado momento a minha ou a sua solidão. Talvez sejamos aquele homem só, pois quem ama de uma maneira ou outra vai sentir um dia os efeitos da solidão. Levantei-me do banco, e caminhei pensativo até a minha casa. Nos meus pensamentos Vinicius de Moraes “Mesmo o amor que não compensa é melhor que a solidão”.
Guga Coelho Leal – Engenheiro e escritor, membro do IHGRN