UM LIVRO DE REGINA RENNÓ – 

Tomei conhecimento sobre a obra desta escritora mineira, através do meu neto Lucas Josuá Rocha (fazia tempo que ele não me inspirava), quando me apresentou o livro ‘JOÃO DAS LETRAS’, que havia emprestado da biblioteca do Salesiano.

Como sempre, fui direto ao final do livro e, a última frase me cativou: “Meu ofício é fazer sonhar aquele que vai me ler”. Lucas então se apressou em ler algumas folhas para mim, mas não me satisfiz: queria “combater o bom combate” e aceitar o desafio que a autora, Regina Rennó, naquele momento, me propôs: fazer-me sonhar.

Quem é essa escritora que aguçou meus sentidos e mais ainda, desafiou-me com um livro da literatura infantil que ora e, de muito bom agrado, me fez feliz?

Regina Rennó nasceu em Itajubá/MG, premiada artista plástica, ilustradora, escritora, roteirista e diretora de cinema, com mais de 46 livros publicados e 22 narrativas de imagem. Conquistou vários prêmios e indicações da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil.  Dentre seus livros, temos ‘Que planeta é esse’, ‘Gato de papel’, ‘História de amor’, ‘Como se fosse gente’, ‘Pê, o pato diferente’ e o da “vitrine” JOÃO DAS LETRAS.

Muito bem.

João, ou João das Letras como era denominado pelos moradores de sua cidadezinha, era tido como um “desocupado”, pois passava o dia com um lápis na mão, anotando aqui e acolá, as fantasias que a inspiração cedia. Para ele “cada dia tinha a sua melodia e a sua cor que o cheiro trazia”.

Outros moradores exerciam as mais diversas atividades comuns nas pequenas cidades: sapateiro, açougueiro, costureira, professora, motorista, jornalista, dentista, secretária e por aí.

Todos, em algum momento, não perdiam a oportunidade de mandar: “João, vai trabalhar”.

E mais, se dispunham a ensiná-lo os ofícios de suas atividades, desde que João saísse daquele mundo mágico de utilizar papel e lápis como ocupação diária.

João, porém “mantinha acessa a lâmpada do pensamento”. Escrevia, escrevia e ia assentando no papel “cor de palha seca”, letras e mais letras como uma cachoeira de inspirações.

Anoitece, amanhece, anoitece novamente e a cada novo dia se repetia o blá blá blá daqueles que viam o obstinado João gastando seu grafite com tudo que desfilava em sua mente.

Diziam: “João vida mansa. João vida mole”.

Mas, o inesperado deu as caras e um carro com um garboso senhor chega à cidadezinha. Chama a atenção de todos por ser uma boa oportunidade de oferecer seus produtos para um cliente em potencial.

“- Obrigado – diz o senhor”. Apressado diante de tais insistências comerciais, pergunta por um tal de João.

A pergunta deixou todos sem entender por quê. “Ora essa que ironia”. “Perder tempo não pode. Mas vai atrás de quem nada faz?”.

O zum zum zum é grande.

João abre a porta e recebe o homem que ali estava a sua procura. Ninguém entende e muito menos acompanha a conversa entre os dois.

Lá pras tanta do dia, sai o homem carregado de um fardo de papel”. E João com a mão cheia de dinheiro.

Foi demais. A inveja assumiu a situação e perguntas e mais perguntas sobre o que aquele punhado de papel tinha que valia mais que os doces, pães, reparos nos sapatos, colarinhos e outros tantos.

Explique-se, ‘home’ de Deus!

E então, a grande resposta de João, o “João das Letras”:

“- Digo sem pressa. Lá dentro do pacote tem carruagem que voa, tem floresta encantada, tem menino que ri à toa, tem bruxa, princesa, fada, castelo de vidro e ferro, roca que tece ouro. Mentiras que são verdades, verdades que são mentiras. Palavras escolhidas a dedo com letras de A a Z. Meu ofício é fazer sonhar aquele que vai me ler”.

Li e sonhei.

Regina Rennó ganhou o desafio.

 

 

 

 

 

Carlos Alberto Josuá Costa – Engenheiro Civil, escritor e Membro da Academia Macaibense de Letras ([email protected])

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