UM LIVRO ESQUISITO – Alberto Rostand Lanverly

UM LIVRO ESQUISITO –

O ser humano é um livro esquisito, por fora com capa que encanta, e por dentro um labirinto recheado de palavras muitas vezes complicadas, possuidoras de efeitos tão nítidos quanto inesperados ou engraçados, mas quase todos tendo em comum, tópicos que externam alegria, dor, medo, angustia, e em algumas oportunidades, teimosia.

Lembro claramente quando bem jovem, ouvi um ancestral ensinar que “os homens são animais muito estranhos: uma mistura da inteligência do cachorro, teimosia do boi e a malícia de uma burra, temos que ter muita arte para entende-los”.

João do Mato, Batista e Chicuta eram irmãos, idosos e solteirões, juntos residiam há décadas em um canto ermo da propriedade familiar no sertão seridoense, por repetidas vezes, haviam sido mordidos por cobra cascavel e apesar dos apelos para deixarem a moradia de taipa no meio da caatinga e mudarem para próximo da casa grande, nunca aceitaram tal proposta, sempre afirmando, “um raio não cair no mesmo local duas vezes”, mas o fato sempre se repetia.  Os três morreram cegos devido ao efeito do veneno do maligno réptil. Em minha cabeça, eu não acreditava como tamanho capricho podia prevalecer na mente de pessoas, costumeiramente boas, dóceis, trabalhadoras e sempre tão disponíveis quanto sorridentes.

Hoje, vivemos época difícil, e enquanto milhares de indivíduos diariamente são infectados pelo vírus que amedronta, é comum verificar alguns entes muitas vezes queridos, que levaram a vida como protagonistas de suas próprias histórias, confrontando de forma acintosa a tendência mundial que é o isolamento social, esquecendo que somos irmãos, e que o orgulho em forma de rebeldia, é um sentimento que pode lhes levar a um caminho de ida sem volta, gerando saudades nos corações dos que os amam.

Não julgo o comportamento de terceiros ou me refiro aos que carecem trabalhar, sendo obrigados a deixar seus lares para buscar meios a sobrevivência da economia, saúde, segurança e produtividade da nação, porém não consigo entender, os que se expõem por puro diletantismo, e assim colocam dezenas de semelhantes em risco, ao saírem por aí, como “serial killer” em potencial e infectando ou sendo infectados, espalhando a doença ou impondo o mal a seus semelhantes

Aprendi, que os compêndios, são tão sensíveis que não merecem ter suas páginas dobradas ou marcadas com traços ou lembretes, porém dias atrás ao degustar o conteúdo de um best-seller, grafei uma frase que dizia assim: “Aceite as asas do romance, mas agarre com todas as forças as mãos da realidade”.

A verdade é que todos estamos fartos, eu próprio escrevo para amenizar meus nervos, na expectativa de em breve voltar a viver em outros espaços, onde possamos até trocar abraços. Mas mesmo assim, o homem nunca deixará de ser um livro esquisito.

 

 

 

 

Alberto Rostand Lanverly – Presidente da Academia Alagoana de Letras 

As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores
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